Rádio
Foi aprovada à pouco tempo em Assembleia da República uma lei que obriga a que as rádios passem 50% de música portuguesa. Apesar do aparente consenso entre os partidos (julgo que a votação foi unânime) da minha parte a medida é injustificada, injusta e inútil. Antes de mais sou contra o princípio de que se deva passar mais música portuguesa só por ser portuguesa. As rádios devem ter a liberdade de escolher as músicas que pretendem divulgar, não há nenhuma razão para que eu, como apresentador de um programa de rádio, seja obrigado a passar uma música de que não gosto ou que não quero passar, só porque é de origem portuguesa. É um proteccionismo bacoco, sem razão de ser e anacrónico no mundo de hoje. Mais: se a música é um produto vendável, e cada vez mais o é, que razão tem agora qualquer político para protestar que os produtos portugueses não têm as mesmas hipóteses no restantes países? Os proteccionismos injustos de que acusamos os outros países não fazem mais do que seguir no mesmo espírito da lei da rádio agora aprovada.
A música é uma forma de expressão cultural, é uma arte. E, como toda a arte, ultrapassa largamente o conceito de nacionalidade. Que sentido faz que se obriguem as pessoas a comprar apenas pintura portuguesa? Ou que tenhamos de assistir a uma peça portuguesa por cada vez que assistimos a uma produção estrangeira? Não há absolutamente razão nenhuma para que se prefira uma produção artística em detrimento de outra, apenas com base no país de origem. E para aqueles que pretendem com esta medida melhorar a música portuguesa, dificilmente poderiam ter escolhido pior solução. O pior que se poderia fazer a uma música portuguesa, com uma qualidade pouco mais que mediana, fechada e pouco original, era proporcionar uma redoma protectora sobre essa música. Como podemos esperar que haja um desenvolvimento a sério no sentido de um maior profissionalismo, de uma maior criatividade e variedade, se a mensagem que se envia é que a música portuguesa passa de qualquer maneira e SÓ por ser portuguesa? É o regresso da mesma mentalidade fechada, mesquinha, proteccionista, à imagem do velhinho “orgulhosamente sós!”, que sempre nos impediu de termos uma sociedade verdadeiramente aberta e moderna. Em vez de desenvolver uma saudável partilha e divulgação da música de todo o mundo, é triste ver que os músicos portugueses (e foram eles o principal grupo de pressão) continuam fechados sobre o seu umbigo, mais preocupados em promover as suas carreiras do que em ser um factor de desenvolvimento e abertura do cenário cultural do país.
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