O Diva de Portugal

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sábado, outubro 25, 2003

EUA, um país de contrastes (um pretexto para um tema polémico)

Os Estados Unidos da América são um país de contrastes. Capazes do melhor e do pior, país donde provém os maiores sonhos, mas donde se acenam, também, grandes pesadelos. São, em suma, um país que, como qualquer outro, têm duas facetas e ainda que se tente apenas realçar a melhor, a outra existe. São, pois, país de grandes qualidades que ofuscam os grandes contrastes dentro de si. Estados Unidos, o nome diz muito. São cinquenta estados. E cada estado é como um país, uma nova perspectiva da América, do mundo, da american way-of-live, da liberdade, da democracia, do capitalismo, da guerra, da paz, da paz imposta, da paz suposta, da política norte-americana. Em comum, uma figura, um nome, uma bandeira, um valor. E no entanto são meras imagens, pois por dentro não são mais que estados unidos e na essência muito diferentes. Desde o Arizona, condenado a eterno depósito de aeronaves e deserto interminável, até à Flórida e as suas praias, passando por cidades emblemáticas e tão heterogéneas.
Gostei da compilação de crónicas de Joel Neto, no seu Al-Jazeera, meu amor. Tinha já lido algumas no site do autor quando ainda eram produto recente de uma guerra que tardava, que teimava em tornar-se num impasse político-militar. No final, foi como rever velhas memórias. O livro é uma obra curiosa pela abordagem, pelo ponto de vista desconhecido de uma profissão que não se impõe, pois vive para dar a conhecer aos outros, o outro, o acontecimento. O livro apenas perde no final, não que o final seja mau, é muito bom. É uma óptima crónica, mas sai penalizada pelo livro não dedicar a ela mais páginas, pois compreender os Estados Unidos onde ela se passa, é compreender a guerra que os EUA tentaram vencer no Iraque e ainda hoje tentam, enquanto escrevo estas palavras no meu teclado de marca americana (mas, ironicamente, produzido em algum outro país). Ganharia imenso se além da primeira parte, houvesse um aegunda sobre os EUA. Mas, então, não seria Al-Jazeera, não seria o livro de Joel Neto, o livro que ele tão bem escreveu e que por si já oferece momentos bem passados (e porque não? Pensados... também). Muito mais haveria para escrever, estou certo, e muito mais o merecia ser. Assim, fica a sugestão para que futuramente as crónicas dos EUA sejam de novo exploradas! Mas, volte-se à essência da mensagem: o livro aborda na sua recta final a perspectiva de um casal, em lua-de-mel, sobre uns EUA explorados numa viagem de carro que nos faz remeter para as imagens do cinema americano dos anos 70. É uma perspectiva feita por dentro e de um modo extremamente próximo da realidade desconhecida. A experiência mostra-se, pois, a melhor forma de obter o conhecimento acerca do desconhecido. (Terá, neste ponto, a ciência imitado a vida?)
Mas, escrevo estas linhas para algo mais dizer...
Nos mesmos EUA existem juízes que podem decidir sobre a vida, sobre a morte, a favor de uma, contra a outra que não se escolhe. Mas, nos mesmos EUA, estados há onde tal não é possível. E outros, ainda, onde a pena de morte é repensada. Um país de contrastes, de diferentes visões. Contudo, no mesmo país existem estados que proíbem os juizes e os cidadãos de optar pela sua vida e por um fim digno (se algum o é). O mesmo juiz que pode decidir acerca da vida do outro, não tem o direito (legal) a decidir o fim da sua vida. A vida que mais que todas, tem direito a julgar, que por a viver tem por ela total poder e responsabilidade. Não pode recorrer á eutanásia quando mais nada pode fazer... e nesses estados em que se defende o direito à vida de criminosos (e eles têm-no), outros não têm o direito a optar, a fazer uso da sua liberdade. Um doente em fase terminal, com doença incurável, que degrada o corpo ou a mente, não pode optar a ter um fim feliz, o fim que ainda que, sempre, indesejado, é o melhor que pode ter. Nega-se o direito a que este cidadão possa morrer em paz, com honra, com dignidade, podendo despedir-se condignamente dos que ama e dizer os seus nomes, ter consciência de que o faz e que o pode fazer. Morrer com os sentimentos intactos, com a sua essência primeira. De nada vale a forma intacta, quando a pessoa morreu há muito, quando a sua essência se foi com ela. A forma de pouco vale, se a essência é ignorada. Pois a forma é a aparência e a aparência pode ser ilusão, pode ser apenas isso, aparente. A essência não, é a pessoa, é o ser, é o seu verdadeiro eu e mais não se pode ir para além disso, pois é o limite do Homem. E no entanto, muitos não podem optar a não perderem-na, a não serem meras figuras vazias de sentimentos ou vida. Vida não é coração a bater, ou peito a mover, vida é sentimento, pessoa a sorrir, pessoa a sentir. E se os EUA são um exemplo, outros haverá...

Ass: PM