Gary Oldman
Gary Oldman. Ele será o prisioneiro de Azkaban no quarto Harry Potter que estreará em Julho de 2004, numa altura em que as bilheteiras dos EUA verão a estreia de grandes gigantes e de filmes há muito aguardados.
A mim parece-me razoável admitir a possibilidade de estarmos perante um actor multifacetado e dotado. O meu contacto com ele já advém de filmes antigos e gostei particularmente de saber que participaria (ainda que de um modo não-creditado nos cartazes) na sequela do Silêncio dos Inocentes. A personagem era Mason Verger, talvez a mais difícil do livro, era o inimigo de Hannibal, o único que se mostrava ainda pior que o psicopata. O filme não dá o privilégio de tempo para Mason Verger, o que é de resto natural. A sua face, ou a falta dela, é no mínimo perturbadora e é, pois, natural que não se abuse de uma presença chocante. O trabalho de maquilhagem é nesse ponto soberbo (protesto por essa questão não ter sido abordada o suficiente na reportagem do DVD). Ainda assim, o filme começa com a conversa entre a mórbida personagem e um antigo enfermeiro da ala de Lecter no hospital psiquiátrico, uma entrada em grande que põe literalmente cara-a-cara (ou talvez não tão literalmente) o público com o vilão.
O efeito sentimento inicial é um misto de horror, pena e choque, não se pode deixar de sentir pena da vítima de Lecter, que foi desfigurada após um encontro nada recomendável com o canibal. Contudo, no livro o escritor Thomas Harris mostra o quão terrível é Mason e como o que lhe sucedeu não foi mais que uma vingança, uma paga pelos seus crimes, um julgamento feito por Hannibal. Mason mostra-se, no livro, uma personagem igualável a Hannibal quanto à sua maldade e o escritor tira rendimento fazendo um jogo com os juízos, questionando o leitor e levando-o a reflectir sobre quem é o vilão, pois o que os separa é uma linha ténue. No filme, esta ideia podia-se perder.
Gary Oldman foi versátil o suficiente para transmitir a ideia de desconforto da sua personagem, da arrogância, da ambição pela vingança, mas também pela indiferença quanto aos crimes passados (Mason é um antigo pedófilo, filho de uma das mais importantes e ricas famílias americanas). A sua presença no filme não é extensa, como disse, e mostra-se (muito) diferente à do livro (personagens cortadas, morte diferente, diálogos soberbos perdidos), mas o resultado é que Gary Oldman sabe como trabalhar o guião ao ponto de inserir as características-chave da personagem de Thomas Harris nos poucos minutos em que aparece. Não é mesmo de estranhar o fim da personagem, em muito graças a um subtil toque nos primeiros minutos.
Claro, a sua condição de vilão, a maquilhagem que segundo muitos faz o trabalho todo e a face que se construiu com ela ditaram que não fosse uma personagem apta a concorrer com os restantes nomeados para o Óscar, não foi nomeada. Merecia uma nomeação ao Óscar para melhor actor secundário, a meu ver. Vencer, talvez não, nesse ano a concorrência era de facto demasiado boa para tal acontecer. Talvez merecesse tê-lo sido, vendo o livro encontro uma interpretação sólida e correcta, um bom trabalho como actor, em suma. Fica a pena do esquecimento quanto à soberba maquilhagem do personagem, que merecia o Óscar.
Ass: PM
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