O Diva de Portugal

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quarta-feira, janeiro 14, 2004

Liberdade de opinião?

Na passada semana, um apresentador da BBC (de um programa juvenil, julgo) foi despedido pela estação britânica. Até aqui tudo (mais ou menos) normal. A questão é que a razão apontada para o despedimento foi uma entrevista dada pelo apresentador a um jornal. Ou seja, foi despedido por delito de opinião. Na dita entrevista, o visado terá tecido alguns comentários pouco lisonjeiros para com os árabes. “Não lhes devemos nada.”, “Eu não esqueço as imagens das populações a dançar de júbilo na rua depois de os seus compatriotas terem assassinado milhares de pessoas no 11 de Setembro” ou “Um povo de fanáticos religiosos, violadores dos direitos das mulheres.”, foram alguns dos mimos dirigidos aos árabes. Após a publicação do jornal, uma associação árabe em território britânico, pressionou a BBC e provocou o despedimento imediato do apresentador. A razão deste post não se prende com o teor da entrevista per si mas com as consequências que esta teve para o autor. Like it or not, um cidadão inglês, parte da democracia inglesa do séc XXI, foi despedido por causa daquilo que são os seus pensamento e valores. E este não é o primeiro nem o único caso deste género nas democracias ocidentais. A questão é a seguinte: é legítimo que numa sociedade, pelo menos pretensamente democrática, um cidadão possa perder o seu emprego por causa das suas convicções? É legítimo que, numa democracia, uma empresa pública obrigue os seus empregados a seguir uma e uma só corrente de pensamento? Ao depararmo-nos com esta situação temos de nos interrogar até que ponto é verdade o dogma da liberdade de opinião nas sociedades ocidentais. Pode um governo impor ou condicionar as convicções dos seus cidadãos? A questão é bastante complexa e apresenta várias ramificações: é aceitável, por exemplo, que os partidos de extrema direita sejam ilegalizados e criminalizados? Ao fazê-lo, não estaremos a condicionar as liberdades dos cidadãos? Ao tentar defender as democracias, não estaremos, de certa forma, a perverter e renegar os princípios fundamentais dessas mesmas democracias?

P.S.: As citações entre aspas foram feitas de cor por isso podem não corresponder exactamente ao original. Mas o sentido das declarações é aquele.