O Último Samurai (1)
Eu não queria repetir o tema... mas na verdade eu amo cinema.
Ao sair da sala de cinema, pude apreciar como um bom digestivo o último (e talvez, mesmo, o melhor) filme de Tom Cruise. Agrada-me a maneira como inteligentemente este actor tem gerido a sua carreira, mesmo mostrando interesse em integrar papéis mais comerciais (como o será, caso avance, Iron Man) as suas escolhas são cuidadosas, ponderadas, pensando na família, na carreira e na procura de desafios interessantes para ele enquanto actor.
Poucas dúvidas há que este ano pode não ter sido tão próspero em número de filmes que nos marcaram, mas foi-o quanto à qualidade dos que nos lembramos. Nomes como Mystic River e o terceiro filme d'O Senhor dos Anéis são alguns dos favoritos, mas O Último Samurai (estreado, ontem, entre nós) é, para mim, o que mais condições reúne de se afirmar como um dos vencedores, pelo menos na fase das nomeações onde supera no trabalho de actores a adaptação de Tolkien e no plano da realização até a relativamente sólida condução de Clint Eastwood em Mystic River. Se Finding Nemo foi uma surpresa, Mystic River um bom filme e O Senhor dos Anéis estrondoso visualmente, O Último Samurai é tudo isto e algo mais. O guião é de uma originalidade hoje raríssima no cinema norte-americano, a realização respeita o tom épico do filme e a questão histórica e mesmo a questão linguística (um problema que não via tão bem abordado desde Danças com Lobos). Em relação a Danças com Lobos existem elementos que tornam-no bastante similar ao O Último Samurai. Lembro que o primeiro foi o grande vencedor dos Óscares de 1990 e um dos melhores filmes da carreira de Kevin Costner. Existe um certo parelismo entre as personagens de Algren (Cruise) e de John Dunbar (Costner), dois americanos que acabam por conhecer e tornarem-se amigos do antigo inimigo; na maravilha provocada pelo impacto visual dos cenários naturais; pela abordagem das relações humanas e do profundo tratamento psicológico dado a cada personagem; na própria época dos filmes (ambos no período posterior à Guerra Civil norte-americana); na correcta interpretação por todos de dois brilhantes guiões.
Gostei da realização atenta, contida e acertada que construiu um drama humano, combinando-o com problemas históricos cruciais para o entendimento de todo o enredo e na condução daquela que é talvez das melhores cenas de batalha do ano. Talvez não tão grande como a d'O Senhor dos Anéis, mas mais realista, fria, humana até. A beleza da paisagem japonesa recriada na Nova Zelândia é um elemento bem aproveitado para se compreender certas mudanças na personalidade de Algren. Por sua vez, a fotografia mostra-nos planos que são verdadeiros quadros pintados, como a recriação de Tokio, da aldeia de Katsumoto (o líder samurai) e o uso intensivo, mas jamais repetitivo, dos jogos de luz e do sol. Tom Cruise está perfeito no seu papel, sinceramente não veria outro no seu lugar, pelo menos, para aquele Algren. Apenas a presença de nomes sonantes e de reconhecido talento como Sean Penn e Johnny Deep na corrida me fazem hesitar na hora de lhe dar o prémio como merecido. No elenco estão presentes alguns nomes conhecidos, não muitos, dos quais reconheci o do aclamado britânico Timothy Spall (no papel de Simon Graham, que actua também como narrador daquela estória). O Katsumoto de Ken Watanabe tem um registo maravilhoso que nos faz sentir atraídos pela cultura samurai (o que é vital para gostar deste filme, diga-se) e parece-me merecer uma justa nomeação para o óscar de Melhor Actor Secundário, tal como o foi Grahan Green de Danças com Lobos com uma personagem com um conceito similar.
Na minha opinião, O Último Samurai parte para a corrida os Óscares com francas hipóteses de ganhar, merecendo – a meu ver – ser nomeado nas principais categorias, pelo excelente trabalho de realização e representação, num tom e realista e contido onde cada um é a personagem, não rouba as cenas a ninguém, desempenha apenas na perfeição o seu papel dando um tom realista à história. No decurso do filme existe uma frase que marca (e que é muito bem usada no trailler), onde Tom Cruise, após a sua captura pelos inimigos samurai, diz ao líder destes: “I know what you do to your enemies”. Na verdade, O Último Samurai mostra-nos, no final, o que é o espírito samurai, dá-nos uma justa lição sobre a cultura japonesa e dá-nos a ver o lado humano destes fantásticos guerreiros nipónicos, mostrando não o que Katsumoto faz aos seus inimigos, mas aos amigos, como Algren acaba por se tornar...
Ass: PM
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home