A Cruz que o crucificou
Aos leitores acalmo os receios e garanto que neste post não vou falar de religião!
Mas sim de Martins da Cruz e da Cruz que o crucificou.
Martins da Cruz demitiu-se, finalmente. Um homem que se dizia de consciência limpa mostra agora que a consciência pesava. Mostrou pela sua demissão que a pressão não era aparente, infundada, que o afectava e que havia na sua memória recordações que outros ignoravam e que não permitiam que a sua consciência estivesse limpa. Iludiu-nos, talvez a si próprio. Foi o amor de pai que falou mais alto, aprecio isso e aplaudo. Enquanto pessoa, Martins da Cruz agiu como qualquer pai devia agir, em benefício da sua filha, talvez a pessoa que mais ama, a razão primeira da sua vida, um bom pai portanto. Enquanto ministro, não o devia fazer, não podia! Um ministro mais que uma pessoa, é uma imagem e como imagem deve ser imparcial, responsável, sério e alheio a qualquer interesse ou preferência pessoal. Falhou nisso, mas não enquanto pai.
No final, Martins da Cruz fez o que seria de esperar de uma pessoa séria, de uma pessoa de honra: reconhecer o seu erro, assumir as responsabilidades por ele. Os erros perdoam-se, não os reconhecer e as suas consequências é que não.
O Dr. Pedro Lynce merece a minha simpatia pela tentativa que havia feito para mudar uma parte de uma lei, que considerava (como muitos outros) injusta e inadaptada. O que fez depois não merece a minha concordância, mas reconheceu o seu erro e assumiu com extrema dignidade as responsabilidades por ele, merece ser perdoado, merece ser compreendido ou pelo menos que se tente fazê-lo. O seu pedido de demissão foi a atitude correcta, fê-lo de maneira exemplar, incriticável. O máximo que seria de esperar do seu colega de Governo é que seguisse o exemplo e não tentasse aguentar uma situação intolerável. Falhou aqui o primeiro-ministro ao preferir um, curiosamente um amigo pessoal, e incentivar à demissão do outro.
Sai fragilizado o Governo, o seu líder, os que se demitiram. Sai valorizada a verdade, a justiça, a democracia!
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