Matrix - Segunda Parte
(continuação)
entrevistas tentaram, um pouco, evitar essa onda. As expectativas fracassadas são infelizmente muito por culpa do público.
As minhas expectativas não foram grandes, preferi manter-me sereno e prevendo o pior. Não sou um entusiasta de Matrix, nem mesmo fui ao dia da estreia do mesmo, sou sim uma pessoa que gosta de bom cinema e por isso achei artisticamente interessante o primeiro filme, tendo, por isso, ido ver os restantes. Sou capaz de comprar um DVD do Animatrix ou do primeiro filme, mas não faria do Matrix o sonho de uma vida. Curiosamente, a minha impressão quando me apercebi que o Matrix iria estrear há algumas semanas foi “Já? Quem diria...”. E parece que resulta, pois sempre parece mais fácil a espera. Muitos queixaram-se da falta de respostas deste filme, eu não, encontro-as escondidas, em mim próprio. O filme não é filosófico a um primeiro olhar, mas os actores têm razão ao dizer que o é, já que questiona o espectador, incita-o a pensar o que é raro num filme comercial. De filosofia pouco se vê, são jogos de palavras estéticos, perguntas retóricas, alusões religiosas e espirituais, tudo enquadrado num universo bem próprio da trilogia e que não me parece muito descabido. O público peca, pois, ao não reflectir sobre ele, ao fazer julgamentos precipitados, ao entrar na sala do cinema com a ideia pré-acabada (e pré-feita) de que é um mau filme.
Eu vi o filme e achei que oferecia respostas, achei-o visualmente inferior, ainda que ofereça alguns momentos interessantes nesse aspecto. A sequência do ângar é uma oportunidade para abordar o inevitável cliché americano e sempre presente no comercial do cinema, contudo, vai além disso. Na segunda parte da trilogia vi a sequência com grande entusiasmo, a meu ver aquele cenário e as unidades ACP (que me pareceu serem uma referência ao Aliens, O Resgate?) foram visualmente impressionantes tendo um certo toque do filme da saga Aliens de James Cameron, mas também lembrando a agressividade do rival de Robocop, o ED-209. Gostei da sequência de batalha, nesse ponto o filme saciou o meu instinto mais básico de torcer pela vitória dos humanos e de ver as máquinas a passarem um mau bocado. Mas de volta à crítica séria, continuei sentando (ao contrário de certas pessoas no cinema, que se levantaram no início, provavelmente após terem visto o que lhes interessava: o apetitoso trailler d’ O Regresso do Rei”) e apreciei o filme. A fotografia focando de novo os tons brancos (para transmitir a solidão e realçar o vazio), o verde (uma inconcebida e insana esperança) e o negro a cargo do veterano da saga, Bill Pope, foi o prato forte do filme. A presença da simpática e curiosa Tanveer Atwal (no papel da jovem criança Sati, que consta que ainda poderá dar algo mais ao universo Matrix) e o encontro final entre o Oráculo e o Arquitecto (Helmut Bakaitis, que fez um trabalho muito melhor na cena fulcral do segundo filme) merecem destaque, mais não seja pela surpresa que causam. Não sabemos bem o que Sati faz no filme, mas o seu nome (ou melhor, o seu significado) pode oferecer algumas respostas...
De notar que nem tudo é perfeito, a fotografia da cena final do encontro peca pelo tom demasiado contrastante que coloca na penumbra o Arquitecto (isto em pleno dia), se o objectivo era fulcral o “luto” da personagem, então, cumpre-o com pouca eficácia. Existem algumas quebras no guião que podem ser mal interpretadas pelo público, ainda que explicáveis ao se reflectir sobre o que se viu. Matrix Revolutions dá (muito) espaço à opinião do espectador, a meu ver isso é positivo, não é uma deficiência do guião, mas uma liberdade deste. Revoluciona por isso, pelo ilógico final para alguns, que nem é assim de espantar. Pela mensagem que transmite, que até uma máquina pode sentir e sente e no entanto sentido não trai (lembrando as conclusões tiradas no final de Terminator). Contudo, há outras deficiências, tal como o é a inevitável cena de confidências antes da morte de Trinity não dão muito ao filme, tornam questionável até o porquê das máquinas não aproveitarem esses largos minutos para matar Neo. E por fim o próprio visual do Oráculo, poderia ser mais drástica a mudança (o que neste caso pode também ser um resultado da nossa imensa expectativa quanto a esta), mas há que ser justo e realçar que a actriz Mary Alice nos faz relembrar a sua antecessora e (re)constrói com precisão e minúcia a sua personagem.
Para terminar há que referir que Keanu Reeves se mostra ainda e sempre inexpressivo e bastante limitado na sua performance (infelizmente, para mim e para os restantes homens, parece que esse mesmo look passou a ser apreciado por milhares de jovens na puberdade). Mesmo na dor não consegue dar muito ao personagem, se no primeiro a sua abstracção e “vazio do personagem” pareciam condizer com o desenrolar da história, nos seguintes algo falta. A calma extrema de Neo é visualmente impressionante no segundo filme, mas sempre mal aproveitada, aquém do que poderia dar. O contraste não se acentua e em certos momentos, a mudança no personagem parece não ter sido tão acentuada como se faz crer nas restantes cenas. No entanto, duvido que Tom Cruise estivesse à altura do desafio, daria um toque demasiado humano ao personagem e como o final da trilogia prova Neo pouco teria de humano, a sua existência talvez, a sua essência questionável é.
Ass: PM
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