O Diva de Portugal

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terça-feira, outubro 28, 2003

Harry Potter ou a traição à Literatura

O Panteão Nacional. Alguém conhece? Pois bem, é onde estão as figuras (ditas) ilustres da nação.
Alguém teve a bela ideia de fazer lá uma recriação de um capítulo do pseudo-romance Harry Potter e o pior não é alguém ter tido essa ideia (a esse só se deve lata soberba), mas alguém a ter aceite e disponibilizado o referido espaço (entretanto ligeiramente modificado com adereços de bruxaria e carteiras escolares). Curvo-me perante a pertinência do comentário do deputado José Lello. Afinal, que raio de ideia é usar um monumento tão importante e com tais características para publicitar uma pseudo-peça de teatro sobre um livro que revela ser uma obra, por vezes, demasiado superficial. Pela criatividade merece mérito, mas pela forma não. Um livro não é só essência é verdade, mas ao Harry Potter falta forma e verdadeira essência, tem um bom argumento, mas nada que o sustente. Combate ao mal e crise da adolescência? Se um é um grande cliché, já o segundo foi bem tratado (e digo bem, em todos os sentidos) em Adrian Mole. Para quê chover no molhado? Ainda para mais quando a chuva não é agradável e apenas faz lama que salpica a imagem de um monumento tão respeitável.
Harry Potter seria um excelente argumento de um livro infantil, mas quando se tenta vender como mais que isso é mau. Harry Potter ultrapassou o mérito como obra e a qualidade literária que nele residia (há nele provas de genuína imaginação, reconheço) e passou a mero produto comercial de falso status. Ter a mochila do HP não é um mero gosto, mas uma imposição de uma criança de 5 anos aos pais se quer ser aceite na escola. Ler o HP aos 7 anos não é um gosto pela leitura, mas a necessidade se manter a par nas conversas sobre o adolescente de óculos. Entretanto, um livro que pela idade do heróis (e dos leitores que o iniciaram) devia ter uma temática mais adulta mantém-se nos clichés e na superficialidade do comercial. O facto de ter demorado 2 anos não é justificável... apenas aumentou a justificação, tanto que não serão poucos os casos de pessoas que comprarão a versão inglesa e a portuguesa. E tudo isto é pago com mais páginas. Mas resta saber se, na verdade, a obra tem mesmo a ganhar em ter mais páginas. Cenas óbvias e clichés como eu constatei na última edição nada dão de novo à obra, a não ser, claro, mais material para o cinema comercial norte-americano explorar numa futura adaptação. Esperemos que o próximo filme honre o potencial do terceiro livro (o único que me atraiu verdadeiramente).
Em relação ao Panteão. Resta saber, o que pensariam os ilustres escritores aí sepultados desta, verdadeira, afronta ao bom nome da Literatura?

Ass: PM