Médicos, para todos os gostos
Muitos conheceram, por certo, o Juramento de Hipócrates. Pois bem, todo o médico é obrigado a fazê-lo antes de se tornam um e poder praticar a medicina, uma ideia com boa intenção, ou não fosse a medicina mais que uma ciência e um médico mais que um profissional. Um médico tem determinadas características, é sensível e delicado quando necessário, atento nas alturas necessárias, parcial e distante nos momentos cruciais. Nem todos o podem ser e por isso talvez poucos o sejam, de facto. Existem, infelizmente, muitos médicos que não o são na verdadeira essência da palavra, procuram na profissão o prestígio para o ego, o dinheiro para a conta, a posição que não conseguem sendo eles mesmos. Escondem-se por detrás de um título, quando muitos que não têm um curso muito mais sabem, muitos mais mereceriam ser chamados de doutores, de sapientes profissionais.
Hipócrates foi o pai da medicina para muitos, seria natural que os seus “filhos” seguissem os seus ensinamentos primeiros, os seus princípios, os seus conselhos, os seus valores. O Juramento de Hipócrates é tudo isso, ou devia ser.
Na verdade um bom médico não deve apenas jurar sê-lo, mas sê-lo na prática. Proteger o valor da medicina e tratar bem o paciente, com respeito o que implica seriedade e sentimentos na altura certa, no momento oportuno, na situação em que se fazem sentir. Poucos fazem disso um modo de vida, eu conheço alguns que fazem, poucos. Contá-los-ia pelos dedos de uma mão, aos outros, duvido que tivesse dedos para contar os que conheço. Triste sina, a que se mostra nas minhas mãos. Os que fazem disso um modo de vida, que pensam primeiro no paciente e na medicina e depois na sua carreira, no seu nome, no seu lugar nem sempre são agraciados com justo reconhecimento. Não são poucos, sei-o, que ao optar por tal modo de vida, por tal filosofia, têm carreiras estáveis, mas que estão de um modo ou de outro estagnadas no seu início.
Assim, proponho um novo juramento, um juramento mais realista, mais de acordo com a mentalidade médica em Portugal. O Juramento do Hipócrita, eis a solução para a medicina. Uma medicina, finalmente transparente e sem complexos da sua real situação. E eis como o começar, para os que falte inspiração:
“Eu, futuro médico, juro pensar em mim, na minha carreira, na saúde da minha conta, na correcta e eficaz exploração do paciente, na aceitação de presentes de pacientes e delegados de propaganda médica, nos conselhos para a compra de medicamentos inúteis no lugar de eficazes genéricos, apoiar os paranóicos e deixá-los sonhar (pois o sonho comanda a vida, pelo menos a minha), de honrar o poder e tradição do atestado médico...”
Triste sina. Enquanto isso, há gentes que querem entrar e vêem o futuro incerto. Pessoas boas, que fazem voluntariado, que pensam nos doentes, que vêem distante o sonho de uma vida, que querem ser médicos por vocação, que desprezam os títulos. São poucos, mas eu conheço alguns. Saúde a eles e que eles a possam dar, também!
Ass: PM
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