"Mitos"
Ao longo dos anos julgo que se tem agudizado o a propagação de algo que poderia ser designado como mitos político-sociais. Consistem, regra geral num raciocínio mal construído ou eivado à partida por preconceitos ideológicos e espalharam-se à custa da sua repetição quase obsessiva, nem que seja nos contextos mais estapafúrdios. Aqui vai uma lista de alguns dos meus favoritos e respectiva “desmistificação”.
- A Guerra no Iraque é uma questão de dominar o petróleo.
Só quem estiver em coma é que ainda não ouviu isto. Apesar de ser facilmente desmentido, este argumento foi usado inúmeras vezes, inclusive por gente com um estatuto que devia levar a que fossem mais criteriosos na escolha dos ditos argumentos. Vamos por partes: a guerra pode ter tido muito más razões para começar, mas tentar fazer dinheiro com o petróleo não foi certamente uma delas. Como muitos economistas minimamente sérios se fartaram de explicar, se o motivo era o dinheiro do petróleo, sairia muito, mas muito mais barato, comprar as reservas iraquianas ou, mais prosaicamente, importar energia de outro qualquer país. Mais, as reservas iraquianas eram, já antes, detidas por companhias russas e francesas, e assim vão continuar (coincidência ou não os países mais empenhadamente anti-guerra). Mesmo o petróleo que ainda não está a ser explorado, vai ser entregue a empresas privadas e as receitas daí provenientes pertencem ao estado iraquiano. Os factos são estes: a guerra que supostamente se deve à ganância petrolífera é, bem analisado, um mau negócio para os americanos.
- A economia de mercado e a globalização liberal empobrecem e exploram os países em desenvolvimento.
Num negócio há sempre duas partes principais, uma que vende e outra que compra. Se um negócio se concretiza, isso significa que as duas partes consideram a operação vantajosa para si. Num mercado global acontece o mesmo: se um país vende (recursos, produtos, serviços) é por considera que tal é compensador. É aliás, e por isso se chama economia liberal, livre de vender a quem quiser e de, simplesmente, não vender. Qualquer análise séria dirá que os países que têm mais dificuldades económicas são, precisamente, aqueles que, por uma razão ou outra, não se “globalizaram” totalmente e permaneceram ligados a formatos económicos obsoletos. Aliás o que prejudica realmente os países em desenvolvimento é a não existência de um sistema totalmente liberal, ou seja sem os proteccionismos europeus e americanos que impedem que os recursos desses países sejam negociados livremente.
- Anti-globalização
O movimento anti-globalização é um fenómeno relativamente recente e introduziu uma série de novos factores nas tradicionais formas de contestação: o número de pessoas mobilizadas, a inexistência de uma cadeia hierárquica clara, a divulgação proporcionada pela internet e a facilidade em aparecer por todo o globo. Entretanto algum tempo passou, o movimento passou da anti-globalização para a mais inócua alter-globalização, a mediatização de Génova terminou e importa analisar razões, métodos, protagonistas, objectivos proclamados e alcançados.
Do meu lado o apreço que sinto pelo fenómeno é muito reduzido. Não concordo com os motivos da luta e provavelmente não concordo com as soluções propostas, isto no pressuposto que tencionam, um dia, apresentar algumas. Não há, nem pode haver, algum tipo de plano ou propostas que saiam deste movimento, simplesmente porque ele engloba grupos cujos interesses são incompatíveis. Como é que pretendem agradar ao mesmo tempo ao lobby gay e aos grupos católicos? Como é possível abrir os mercados ocidentais aos países em desenvolvimento sem enfurecer as confederações agrícolas europeias? No fundo a anti-globalização não é mais que um conjunto de grupos, uns mais respeitáveis que outros, que se juntaram, por conveniência ou coincidência, numa cruzada contra o mundo moderno de hoje.
Por muito que o nosso Chomsky local, B. Sousa Santos, e outros intelectuais tentem vender a ideia, a verdade é que não há rumo e muito menos futuro na anti-globalização. Basta ver que a sua figura mais carismática é Jose Bové, esse portento intelectual cuja notoriedade se deve a essa afirmação política tão profunda que é partir uma montra do McDonald’s. Enquanto a alter-globalização tiver num lavrador francês a sua figura de proa eu acho que fico com a “nossa” globalização.
- Okupas
Os okupas são pessoas que ocupam ilegalmente casas antigas e as reclamam como suas. Apesar da boa imprensa que aparentam ter, os ditos okupas não são mais que os filhos rebeldes das famílias bem, com complexos de classe. O facto de realizarem raves ocasionais, fazerem umas trips e discutirem Chomsky à roda de uns whyskies não me parece razão para lhes dar a casa que habitam. Muito simplesmente estão a ocupar um espaço que não lhes pertence e se o legítimo dono (estado ou particulares) chamar a polícia para os pôr no olho da rua, não verterei uma lágrima.
E pronto, estes foram os “mitos” de hoje. Tune in next time para um dos meus favoritos: “mitos” sobre educação e escola.
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