O Diva de Portugal

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sexta-feira, fevereiro 06, 2004

Universidade

Ao mesmo tempo que, aqui em Portugal, se fazia um barulho desgraçado sobre o aumento das propinas universitárias para uma dúzia de contos por mês, é curioso verificar que, em Inglaterra, o governo de Tony Blair aprovou uma lei que fixa as propinas em cerca de 900 contos/ano. Novecentos. O que não fariam os nossos líderes estudantis quando ouvissem… Anyway, isto serve apenas como introdução para um post sobre a universidade que anda na minha mente há algum tempo. Parece-me erroneamente disseminado, em Portugal e não só, o cliché politicamente correcto que frequentar o ensino superior é um direito inalienável de cada cidadão. Não é. Não deve ser. Por duas razões: não há, na sociedade, necessidade de 100% de licenciados e nem todos os cidadão têm aquilo que é necessário para estudar numa universidade. E quando digo universidade refiro-me aquilo que uma universidade deve ser, que é muito mais que um mero pólo de transmissão de conhecimentos. Uma verdadeira universidade não é só um sítio onde se dão aulas, se avaliam pessoas e se passam diplomas. Uma universidade tem uma vertente de ensino sim, mas deve ser mais que isso. Deve ser um local de investigação. Não uma cadeia de transmissão dos conhecimentos existentes mas uma fonte de novos conhecimentos. E é esse em parte, o problema do ensino superior. Na ânsia de responder a uma necessidade de democratização do ensino, foi-se pela via mais fácil que é esquecer a investigação e limitar-se somente a formar (informar?) alunos. É certo que existem alguns e bons investigadores em universidade portuguesas mas não serão tantos como seria desejável. Posto isto, volto à questão das propinas, em Portugal e em Inglaterra. Porque, no fundo, uma questão está ligada à outra. Se me perguntarem com qual das vias concordo mais, com as propinas altas em Inglaterra ou com as propinas baixíssimas de Portugal, respondo que prefiro o modelo inglês. Muito simplesmente porque é um passo no caminho de algo que, infelizmente, se perdeu nos últimos anos. No caminho da elitização do ensino superior. Quando digo elitização (e antes que as AA’s me batam) não me refiro a uma elite monetária ou social. É óbvio que ninguém deve ser privado do acesso ao ensino por falta de dinheiro, e isso é uma das funções do Estado. Falo de elitização, no sentido de exigir uma maior responsabilidade e nível aos estudantes de uma universidade. Aqueles que frequentam uma universidade devem ser verdadeiramente a elite dos estudantes. E não é essa a ideia que vulgarmente se divulga. A meu ver, é errada a noção de que, quantos mais licenciados houver, é sempre melhor. Eu, enquanto aluno de secundário, e os meus colegas de blog e de escola dirão se concordam ou não comigo, tenho consciência de que uma parte mais ou menos significativa dos estudantes do secundário não têm o nível de preparação, a curiosidade intelectual e a vontade efectiva de criar conhecimento, necessários a um bom aluno do superior. Uma parte deles irão tirar uma licenciatura é certo, mas mais como obrigação e desejo de estatuto social do que como verdadeira vocação académica. E este fenómeno, não só banaliza e degrada a qualidade do ensino superior, como tem consequências negativas, como se pode verificar pelo número de recém-licenciados no desemprego. Um maior número de alunos nas universidades só é positivo se for o resultado de uma aproximação das pessoas à exigência das universidades, e não o contrário. Mais licenciados não é sinónimo de melhor sociedade. Os inúmeros imigrantes em Portugal, muitos deles com cursos superiores, que agora trabalham nas obras, que o digam.
Por isso, da próxima vez que um panfleto apelar à greve com o pretexto de combater a “elitização” do acesso ao superior, já sabem qual é a minha resposta.