O Diva de Portugal

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sábado, janeiro 31, 2004

Auto da Barca do Inferno Revisto

Sobe o pano. Três pancadas secas no vazio palco. Uma mutilada barca aparece.

(Barqueiro)
Oh gentes no cais, tomai a barca, a santa barca, a divina marca! Tomai-a! Vá, tomai-a que se faz tarde!
(Ministro da Defesa Nacional)
Oh da Barca, posso entrar?
(Barqueiro)
Então, não pode? Gente de bem, gente católica, gente de Fé e que mais não é que gente de bem e que pelo bom caminho vai... entrai, pois, entrai!
(Ministro da Defesa Nacional)
Obrigado, obrigado, gentis palavras, olhe tomai este autocolante do meu partido, o que começa em P e acaba em P.
(Barqueiro)
Não, obrigado...
(Ministro da Defesa)
Não me diga que é da Sindical, nobre senhor, até que pensava que o vosso noblíssimo emprego era bem pago.
(Barqueiro)
Não, é mesmo porque esse autocolante é verdadeiramente para auto...móveis... e eu, vendi o meu e tive que comprar esta palpérrima barca feita de palitos roubados na tasca da esquina.
(Ministro da Defesa)
E um cachecol?
(Barqueiro)
Para o sítio onde vai não faz frio... faz calor.
(Ministro da Defesa)
A sério? A minha santa matriarca mãe sempre me disse – entre dois avé-marias e uma saudação ao busto do meu heróico avô – que lá era ameno e a comida era boa, ainda que um pouco insípida, porque era cozida. Mas isso não me impediu de para lá desejar ir, afinal, segundo ela, o Inferno era o reino dos fritos e fritos, esses, fazem-me mal ao meu colesterol. Ai, ai, tou que nem posso!
(Barqueiro)
Tomais algum mal no vosso peito?
(Ministro da Defesa)
Não... tomo esta água turva do rio para calar a minha sede, que tenho a garganta seca!
(Barqueiro)
Do calor?
(Ministro da Defesa)
Da demagogia.
(Barqueiro)
Mas dizei-me, ai! que me esquecia de tamanha cortesia que é perguntar quem sóis, donde vens e ao que vens.
(Ministro da Defesa)
Venho por estar morto...
(Barqueiro)
Que surpresa que me contais! Morreria com o susto não estivéssemos já ambos mortos...
(Ministro da Defesa)
Sou ministro e...
(Barqueiro)
Ministro? Que é isso? Emprego de fantasia?
(Ministro da Defesa)
Sou um dos que governa e bem, devo dizer, segundo me fizeram crer os meus colaboradores. Venho de um país chamado República das Bananas.
(Barqueiro)
Nunca ouvi falar...
(Ministro da Defesa)
Mas eu vos conto a minha curta história. Meu país não é nada, agora. Já não era antes, mas isso não importa, pois, sempre fizemos crer que havia sido o palhaço anterior que armara a tenda onde nós fizéramos um belo circo. Na verdade, eu morri porque no seguinte ano ao grande castigo do infernal calor, o meu país ardeu de novo e os bombeiros estavam em greve protestando não houver condições para trabalhar.
(Barqueiro)
Esperai! Mas vós não sois o senhor da oposição?
(Ministro da Defesa)
Mas claro que não, oh amável Barqueiro! Eu, eu sou o Ministro...
(Barqueiro)
Então, toca de dar volta nisto, vamos já para ali... tomai o vosso bronzeador que bem o podeis deixá-lo no caixote do lixo à entrada, ali não vos serve de nada.

Nota: Esta peça nunca ocorreu, foi inventada partindo do nada, foi fruto da imaginação que é a única coisa que nos vale para inventar algo tão fantasioso e pouco credível. Obviamente, não há ninguém assim. Já barqueiros...

Ass: PM