O Olhar
Dizem que o olhar é o espelho da alma. Bem verdade, como muitos outros concordo. Mas acrescento, pois creio que mais que concordam devemos também dizer o que sentimos, quando sentimentos que o resto é insuficiente. Tal como o espelho, o olhar mostra-nos, o espelho a nossa figura, o olhar os sentimentos dessa figura. Mas mais que aos outros, o espelho mostra-nos a nós próprios (diz: "este és tu, este sou eu" e assim é a maioria das lembranças acerca do 1º contacto com o espelho na tenra infância). O olhar mais que mostrar os outros os nossos sentimentos, mostra-nos. Quantas vezes nos custou a admitir, mesmo a nós, certas coisas e com o olhar as confessámos e admitimos. Não tanto aos outros, que em muitos casos não entendem em pleno a linguagem do olhar, mas a nós próprios. Com o olhar amamos, desejamos, lamentamos, pedimos, confessamos, desculpamo-nos. É no olhar que nos buscamos, quando tudo o resto falha.
E mesmo o cego transmite os sentimentos pelo olhar, a si, mais que aos restantes. Pois o olhar pode não ser físico, é acima de tudo uma metáfora.
E é com o olhar que vemos o mundo, mas erradamente confiamos demasiado nele. Tanto que se confessa o amor por ele e as palavras falham, se mostram a amizade e os actos a contradizem.
A vida pode ser irónica para os que dela se abstraem e é saudável fazê-lo, é saudável rirmo-nos de nós, mais do que dos outros. Ao nos rirmos compreendemos melhor o porquê de tal, ignoramos o sofrimento, apelamos à alegria. E ela é generosa, pois se lhe pedirmos ela vem ter. Viver na realidade é bom, mas parar de sonhar é péssimo.
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