Estudo
Ao deparar-me com dificuldades para escolher o tema do meu 3º (!!) post fui obrigado a encarar essa cruel mas óbvia realidade: a minha vida é bastante aborrecida. Ora o primeiro factor responsável por tal monotonia é essa bonita instituição que ocupa metade das horas úteis do meu dia: a escola. Não me entendam mal, a escola não é necessariamente ou por si só algo aborrecido. Aliás, a vida seria bastante mais aborrecida (mas bastante mais....) sem escola. É por ela que passa 95% de todo o convívio social e muito dificilmente isso é algo de desprezar. Simplesmente a escola está indissociavelmente ligada ao estudo, e o estudo, ou mais precisamente o acto de estudar é a encarnação do tédio na terra.
Quando alguma criança/pré-adolescente/adolescente/jovem adulto me diz, com um ar inocente, que para si estudar é um prazer eu:
1) penso que ele/ela está a gozar no cenário;
2) procuro indícios de algum tipo de distúrbio de personalidade;
3) concluo que à minha frente se encontra o produto de uma experiência militar que correu terrivelmente mal.
Alô!!!! Estudar??!! Um prazer???!!! O mero facto de alguém poder conceber estar sentado (ou de pé, ou deitado, para o efeito tanto dá) a olhar para um pedaço de papel, tentando memorizar o que lá está escrito, como um prazer só pode significar que o fim da civilização tal como a conhecemos está próximo, muito próximo...
E não me digam que isso contribui para o nosso desenvolvimento intelectual. Ler bons livros em português, resolver problemas nas aulas de Matemática, debater ideias a Filosofia, isso talvez contribua para a nossa inteligência. Agora ser obrigado a decorar os livros de Português, os problemas de Matemática ou as ideias de Filosofia em casa, para alcançar a proeza de as escrever de cor numa folha de teste parece-me completamente estéril.
O único objectivo minimamente válido, embora francamente sinistro, do estudo, é aquilo que é pomposamente designado como “criar hábitos de trabalho”. Ora o “criar hábitos de trabalho” tem como objectivo, em poucas palavras, baixar as expectativas. Basicamente este processo passa por obrigar os alunos a ultrapassar trabalhos tão entediantes que, em comparação, qualquer ocupação que venham a ter parece nova e excitante. Trabalhar num stand de automóveis, por exemplo, não é exactamente o sonho do comum dos mortais. Mas se esse mortal for também um ex-estudante, enquanto debita as cores que o novo Daewoo traz de série a um bimbo suburbano, pensa:
“ Que seca..., mas pelo menos sempre é melhor que ter de decorar as características psicológicas de uma personagem de uma peça de teatro do séc. XV. Ná, pensando bem, isto até é giro...eh,eh....”
Agora que penso nisso isto de “criar hábitos de trabalho” até é uma tarefa que, apesar de geralmente incompreendida, faz parte das obrigações que as gerações anteriores têm para connosco. Os nossos professores estão, basicamente, a tentar dar-nos uma vida adulta com mais significado e alegria. O meu profundo reconhecimento pela capacidade de visão e espírito de missão do Ministério da Educação ou de quem quer que seja que controla as nossas vidas. A sério. Os meus mais sinceros agradecimentos.
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