Maus Exemplos
Não há como fugir ao assunto, a verdade é que, para o bem e para o mal, a política voltou a ocupar o lugar de destaque nos telejornais. Primeiro foram as demissões no executivo e, mais recentemente, a libertação do, novamente deputado, Paulo Pedroso. Em ambos os acontecimentos, os nossos políticos tornaram a não escrever páginas gloriosas da história.
No caso da “cunha”, julgo que ambos os ministros saem francamente mal. Independentemente de ter ou não existido o alegado favorecimento, importa reflectir sobre o que levou às demissões, o que estas significam e que consequências têm. O problema está, a meu ver, nas demissões per si. Se ambos os ministros negam ter tido comportamentos menos éticos não se compreende o porquê de terem saído. Se ambos reafirmam estarem de consciência tranquila, o correcto a fazer seria agirem de acordo com aquilo em que acreditam e continuarem a defender a sua posição, mantendo-se no activo. Saírem de cena apenas por pressão mediática é um comportamento igualmente reprovável. Não podemos esquecer que Martins da Cruz deu, em pleno parlamento, a sua palavra de honra sobre a questão. O facto de o ter feito e, dias depois ter saído, significa que ou mentiu, ou disse a verdade, mas não teve a coragem para ficar e defendê-la no lugar de ministro. Sair assim só pode significar que a governação é feita de acordo com a corrente do jornal de hoje. Na minha opinião, e apesar dos elogios canibalescos da oposição, a verdadeira dignidade está em assumir frontalmente as próprias acções, se continuamos a considerar que foram as acertadas.
Quanto à libertação de Paulo Pedroso a forma como tudo decorreu foi, novamente, pouco menos que deplorável. Abstenho-me, como é óbvio, de comentar o acórdão do tribunal em si, sobre o qual não tenho muita informação e, certamente, nenhuma competência para avaliar. O que me impressionou pela negativa foram os acontecimentos que se seguiram à libertação. Primeiro a forma abusiva como os dirigentes do PS e a defesa interpretaram a decisão, festejando como uma absolvição aquilo que não passou de uma mudança na forma como Pedroso espera julgamento. Depois a recepção, como um verdadeiro herói, a que Pedroso teve direito no Parlamento. Todos os abraços que se viram em directo, não só são uma falta de bom-senso visto tratar-se de alguém que, para todos os efeitos, continua acusado de violação de menores, como associam de forma irremediável a direcção socialista à defesa de Paulo Pedroso, algo que pode vir a ser extremamente penalizador no caso de uma futura condenação. Os políticos em particular deviam já ter aprendido que não se deve pôr as mão no fogo por ninguém, sobretudo numa acusação de cariz estritamente pessoal. O comportamento da direcção do PS tem sido, aliás, um desastre desde o início do processo. Quando as decisões não são favoráveis grita-se por cabalas, conspirações e lança-se a desconfiança generalizada sobre todo o sistema judicial. Quando as decisões são favoráveis, a “justiça funcionou normalmente”. Daqui se pressupõem que a justiça só funciona normalmente para um lado, ou será que a mesma cabala que lançou Pedroso para a prisão o arrancou de lá?
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