Senhor dos Anéis – O Regresso do Rei (1)
A música é um dos pontos altos deste terceiro filme de uma trilogia que há três anos fez acordar um mundo para uma obra épica única em estilo, complexidade, no que apresentava. Tolkien ganhou novos fãs, reencontrou antigos admiradores, viu renascer e formarem-se novas hostes deles e assumindo-se outra, antes secretas, abertamente. Parecia uma verdadeira chamada para o combate a que muitos responderam. Não terá sido de espantar, afinal, foram gastos perto de 200 milhões de dólares em propaganda, quase tanto como o custo inicial da produção da trilogia! Mas falava da música, um prato forte não haja dúvida, composta com grande mestria e talento por Howard Shore e que vê neste terceiro filme o ponto alto da sua utilização, mais, da sua rentabilização. É neste filme que as músicas são usadas em pleno, conjugando-se um pouco do que fora produzido para os anteriores filmes e mais alguns temas novos.
A realização, essa, é energética o suficiente para fazer de um filme como uma duração superior a três horas (mais de quatro, na sua edição original) uma rápida e leve aventura que prende a atenção e toca no fundo cada sensação o espectador. É competente sim, porém, peca em alguns pormenores que resultam mais de um guião que infelizmente desaproveitou momentos e personagens extremamente produtivos (Boca de Sauron terá sido um dos casos). Gimli torna-se um alívio cómico demasiado utilizado, resulta, mas cansa e retira um pouco de dignidade e misticismo que rodeavam a personagem de John Rhys-Davies (que desde Indiana Jones e a Última Cruzada - com o seu Sallah – não tinha um personagem tão afável e divertido). Denethor é quase que esquecido, sendo uma mera sombra do que podia e devia ser.
Quanto á fotografia, é um delírio visual de lúcida criação de génio com extrema razão. Ora com tons luminosos e vivos, ora jogando com a penumbra, o alaranjado e o escuro o trabalho com os planos e cores é mais que perfeito ajudando a sobressair o esplêndido trabalho na área dos modelos, do qual a maquete de Minas Tirith é um exemplo de perfeição sem crítica possível.
No tocante aos actores, destaco Sam (Sean Astin) que sobressai do trio (formado com o virtual Gollum e com Frodo) ao dar uma verdadeira lição dramática ao (demasiado) contido Elijah Wood e evitando tornar-se um mero estereótipo/alívio cómico. Destaco, igualmente, Aragorn e Gimli que, apesar de tudo, são os mais competentes nos seus papéis num elenco de desconhecidos que mostram por que o eram, ainda. Curiosamente elogio estes, que são quiçá dos mais sub-aproveitados. Isto é, se desconsiderar o trabalho impressionante e revolucionário de Andy Serkis cm o seu Gollum. Resta uma certa ideia que o elenco poderia ter ganho com certos nomes, não só pela sua sonância como pelo talento que ajudou a construi-la. Falo de um inicialmente previsto Donald Sutherland no papel de Gandalf, ou de um magistral e cuidadoso Daniel Day-Lewis (inicialmente convidado, tendo recusado) e mesmo uma dama em beleza e talento como é Uma Thurman que seria evidentemente Galadriel. Gostaria, ainda, de acrescentar um nome a essa lista, a densidade psicológica do Mordomo de Gondor, Denethor interpretado por John Noble, foi captada apenas superficialmente, ficou aquém do que poderia render nas mãos de um actor experiente e categórico e normativo na construção de um papel crucial para entender o porquê daquela situação, gostaria de ter visto Jack Nicholson nesse papel.
Em suma, é um bom filme, não o melhor. A trilogia vê no primeiro livro e filme uma história mais calma, mas que ganha mais pelo tempo que permite para desenvolvimentos que a consolidam e tornam coesa e racional. Analisando toda a trilogia, é clara uma coisa: os efeitos especiais dominam e é para eles, claramente, o papel principal na trilogia.
Que esperar? Talvez o DVD que permitirá uma mais competente e justa análise do colossal trabalho de Jackson numa colossal adaptação de uma colossal obra, como é a de Tolkien. Este, sim, permitirá uma análise realista da trilogia e um contacto mais próximo da visão do realizador neo-zelandês acerca da obra. Resta esperar King Kong (já em 2005!) para o qual Peter Jackson parece estar mais que apto e capaz de levar o filme a um bem sucedido remake. E que outros se sigam!
Ass: PM
PS1- Notei, com alguma tristeza, a ausência do trailler de Spider Man 2...
PS2- Ponto alto do filme foi, também, a companhia e, admita-se, a feliz ausência de catervas de crianças lutando entre si com pipocas e imitando arrotos orc, ou não fosse aquele um cinema do Paulo Branco.
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