O Diva de Portugal

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sexta-feira, novembro 21, 2003

O Comercial do Cinema

Quando se fala em cinema comercial, a expressão comporta geralmente uma conotação negativa, de uma arte menor, descartável. Não creio que tal associação esteja correcta ou corresponda à realidade do cinema actual. O cinema dito comercial não é necessariamente mau cinema.
Antes de mais importa tentar clarificar o conceito. Quando os seus detractores falam em cinema comercial, referem-se a quê? O que é afinal cinema comercial? Não há, nem pode haver, uma definição de cinema comercial, muito simplesmente porque tal classificação é aplicada aos exemplos mais díspares dentro do mundo do cinema. Qualquer produção americana? Um filme dos grandes estúdios? Depende da publicidade, da notoriedade do filme? Então só por certos filmes terem produções milionárias e uma promoção global, isso faz deles necessariamente maus filmes? É qualquer filme com sucesso nas bilheteiras? Então como classificar produções, à partida pequenas e independentes, (Blair Witch Project; Amélie; Pulp Fiction; Sexo, Mentiras e Vídeo; Trainspotting; Boogie Nights), que se tornaram sucessos mundiais? São também cinema comercial?
O sentido pejorativo da expressão “cinema comercial” vem dum sentimento, comum a muitos ramos da vida artística, de que qualquer autor/projecto que alcance o sucesso, que atinge um público vasto e mundial, representa uma deturpação do sentimento artístico, uma corrupção da “pura” arte, pelo dinheiro. Este preconceito não é, de forma alguma, recente, nem se baseia simplesmente na mesquinhez ou na inveja. É expressão de uma visão da arte em geral, e do cinema em particular, como um mundo restrito, fechado a elites intelectuais. Para os representantes desta visão, entre os quais se encontram, infelizmente, alguns críticos de cinema, os bons filmes são aqueles que se apresentam acessíveis apenas aos cúmplices de um código elaborado e especializado que se mostra hermético a quem não partilha do gosto pela elaboração artificiosa no modo como se filma. Até mesmo quando os novos realizadores tentam inovar, criando formatos mais sóbrios e lineares, organizações mais verticais no modo de apresentar a história, são rejeitados como se menos elaboração significasse menor talento. Por outro lado, quem não se viu já perante um filme onde, à custa de tanto pretenciosismo artístico, se acaba por perder o sentido da história e da mensagem.
Há nalgum cinema, supostamente de autor ou independente, uma vertente de fraude colectiva, um sentimento de impunidade total, onde vale tudo para ser (ou parecer) o mais extremo, o mais ousado. Filmes em que se observa o mesmo plano do início ao fim ou, até, onde apenas se ouvem diálogos sobre um fundo totalmente negro, podem ser, para os críticos, obras-primas, mas não deixam de ser obras absolutamente desprovidas de sentimentos. E a “verdadeira” arte não é mais que uma forma de transmitir sentimentos. Este último caso, o português Branca de Neve, é o exemplo paradigmático da tal fraude cinematográfica. A certo ponto da rodagem, o realizador decidiu, em protesto por divergências com o produtor, tapar a câmara com um casaco e realizar o que restava do filme assim. E mesmo assim, aquilo que não passava de uma provocação, de uma auto-sabotagem deliberada, foi elogiado como um bom filme! A forma como certos filmes, absolutamente incompreensíveis e estéreis, são louvados pela sua, pretensa, qualidade artística não pode deixar de lembrar a velha história em que, embora todos aplaudissem, o rei ia nu…
A verdade é que o cinema, os filmes, são um modo de contar uma história e tanto melhor é o filme quanto mais eficaz for na forma de transmitir essa história. É essa a falha de alguns dos autores que se afirmam “contra” o cinema comercial. Na obsessão de tornarem as suas obras mais profundas e complexas acabam por se perder numa auto-contemplação narcisista que só empobrece o cinema.
Os grandes estúdios americanos preferem apostar em ideias e formatos repetidos, em produções descartáveis de sucesso mais ou menos garantido? É verdade, nalguns casos, mas então como explicar que, dos mesmos estúdios americanos, tenham saído os filmes mais originais e refrescantes dos últimos anos (The Matrix, Memento, O Protegido, Minority Report, Seven, Traffic, The Game, etc)? É verdade que nem todos os filmes que semanalmente chegam às salas ficarão na história, e alguns serão objectivamente maus filmes, mas o grande público é mais crítico do que algumas opiniões deixam a entender e, nem todas as grandes produções são sucessos garantidos, nem todos os filmes ditos independentes estão condenados a audiências modestas.
As críticas de cinema são necessariamente subjectivas e dificilmente se baseiam nalgum tipo de critério objectivo, mas quantas vezes não é notório que há um claro preconceito em relação a determinados realizadores, determinadas produções? A mesma violência excessiva, por exemplo, que é arrasada se vier de um realizador considerado mainstream, é considerada imagem de marca, de criatividade, se vier de um realizador “independente” como Quentin Tarantino, John Carpenter, Kitano ou Scorcese.
Em suma, se é verdade que nem todo o cinema comercial é bom cinema, não deixa de ser injusto reduzir uma variada gama de filmes sobre uma mesma designação, redutora, de “cinema comercial”. É certo que é importante, e tem o seu espaço, o cinema independente ou de autor, mas alimentar a visão dicotómica e maniqueísta de cinema independente/ bom cinema e cinema comercial/mau cinema não corresponde à realidade. Não há nada de errado, antes pelo contrário, em tentar criar filmes que se dirijam a um público vasto e, se uma obra conseguiu captar o interesse de milhões por todo o mundo, isso é algo de relevante e meritório. Ao contrário do que alguns pensam, o público em geral acaba sempre por fazer a distinção entre um bom filme, que traz algo de novo, e um mau filme.
Assim, da próxima vez que nos dirigirmos a uma sala de cinema, antes de julgar precipitadamente um filme por ser “comercial”, o melhor é sentarmo-nos defronte do écran e, à saída, sem preconceitos, dar o tempo e o dinheiro por bem ou mal empregues.

P.S.: Mon ami PM, fico à espera da resposta...

1 Comments:

At 4 de março de 2009 às 03:57, Blogger Cat Rufff said...

Cinema comercial de longe o meu 'estilo'. Não sou preconceituosa porque tudo, tudo o que é feito com autenticidade é arte, a autenticidade do momento, pode ser boa ou má depende de cada um, mas mesmo sendo má nao deixa de ser construtiva.
No cinema seja ele qual for a sua categoria o mais importante é o guião. Eu procuro a arte tentando fazer brilhar as ideias com profundidade e vigor inteiramente novos, e ainda fazer brilhar nas coisas os ultimos misterios do ser. Para fazer cinema, realizar, é criar mas criar não é fazer uma coisa a partir do nada. A criação nasce com a riqueza da vivência. Para mim um bom filme tem que ver principalmente em que o realizador ponha no filme uma parte da sua vivencia. Tenho pena é que se aproveitem desta arte como todas as outras so com o propósito de fazerem dinheiro, a meu ver uma grande parte dos filmes comerciais são apenas elaborados com esse unico objectivo, tal como, os filmes de série B (praticamente a mesma coisa). Estes filmes nasceram para fazer frente à concorrencia do aparecimento da TV.
Mas o culpado disto tudo é um senhor chamado Edison que se lembrou de registar a patente das perfurações da película, daí começou tudo a fugir para uma cidade adormecida LA) para nao pagarem a Edison, ou seja, aqui nasceu Hollywood, e para que as pessoas começassem a ir ver, a MPPC começou a fazer propaganda a seus filmes, nascendo aqui o starsystem que ainda hoje conhecemos, so para dizer que tudo isto que vivemos agora ja provem de ha muitos anos e que nunca vai mudar infelizmente. Para mim Bom cinema é um cinema feito com autenticidade, que demonstre sentimentos ao mais alto nível de complexidade (no bom sentido). Espero um dia conseguir vir a fazer bom cinema, não esperando que muita gente o veja, mas mesmo que quem veja seja uma minoria de pessoas fico feliz se mudar a vida dessas pessoas nem que seja um bocadinho. Cinema é uma arte que engloba 6 artes, uma arte que deviam de dar mais respeito.
Fica aqui um desabafo sobre o que é para mim cinema. *

 

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