O Regresso do Rei
A geração dos meus pais foi a geração de 2001 Odisseia no Espaço; Star Wars; A Laranja Mecânica; etc. A partir da noite de ontem terminaram as dúvidas: a nossa geração é a geração O Senhor dos Anéis. Step aside Matrix, Harry Potter, Star Wars Episode I e afins. O Rei regressou e não tenciona abdicar do lugar de fenómeno cinematográfico da viragem de milénio.
Quando se sai de um filme que durou 3 horas e 20 minutos e se pretende escrever algo, o mais difícil é mesmo saber por onde começar. As batalhas? A produção exemplar? O fabuloso lote de actores? Os efeitos especiais? O argumento? Há tantos e tão bons momentos de cinema, que a minha mão ainda treme com a excitação da batalha de Minas Tirith e hoje acordei com o som das trompas de Rohan na cabeça. Mas vou, por breves momentos, retirar a capa élfica dos ombros, tirar a minha réplica em tamanho real da espada Anduril do cimo da secretária e evitar olhar o desktop do meu PC que grita The Lord of the Rings em letras douradas. Sim, espero que, ao contrário de Gollum, a personalidade de crítico (?!) consiga vencer a personalidade de fã incondicional.
O filme começa, tal como os outros, sem nenhum tipo de sinopse dos episódios anteriores, e a primeira cena mostra-nos a evolução do rechonchudo hobbit Sméagol para a esquelética aberração chamada Gollum. Gollum esse que devia valer a Andy Serkins e aos magos da animação que o criaram, todos os Óscar’s técnicos. A partir deste breve flashback, a história desenrola-se seguindo as aventuras de Fodo, Sam e Gollum a caminho de Mordor; e de Aragorn, Gandalf, Gimli, Legolas, Merry e Pippin na defesa de Gondor e dos povos livres da Terra Média. Assim, o filme vai-se desdobrando por estas duas histórias paralelas. As partes que dizem respeito ao portador do Anel e acompanhantes valem sobretudo pela dinâmica entre as três personagens: Frodo, que se arrasta penosamente com o peso do Anel sobre si; Sam, que se acaba por revelar a personagem mais heróica; e Gollum, levando as suas duas personalidades consigo e afirmando-se definitivamente como a melhor personagem virtual já criada (lembram-se duma coisa absolutamente inane de nome Jar Jar Binks?). As partes que acompanham a guerra de homens e elfos contra Sauron, desenbocam em dois momentos de clímax: a batalha às portas de Minas Tirith e a batalha às portas de Mordor. Em ambas as batalhas, Peter Jackson, preferiu dar uma visão mais espectacular e avassaladora da brutalidade da guerra em detrimento de se concentrar nos inúmeros dramas à escala humana e acaba por se sair muito bem. Não teremos a visão da angústia de cada guerreiro antes da batalha, mas a acção, os planos, as coreografias (os olifantes!) são de tal modo grandiosas e espectaculares, que ninguém consegue deixar de sentir um frémito de entusiasmo na espinha. É também justíssimo realçar o maravilhoso trabalho de produção ao nível de guarda roupa (as armaduras e demais uniformes) e cenários (Minas Tirith). A trilogia termina em beleza neste filme, que é uma homenagem em forma de epopeia aos velhos valores marciais: lealdade, coragem, honra, amizade, dever e sacrifício.
Enfim, chegará o dia em que tudo o que teremos serão comédias de adolescentes, romances melosos e aventuras hiper-digitais. Chegará o dia em que o cinema perderá toda a intensidade literária e só teremos imagens virtuais e personagens descartáveis. Esse dia chegará, mas não será hoje, porque hoje é dia de Senhor dos Aneís.
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