O Diva de Portugal

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sexta-feira, fevereiro 13, 2004

Dia dos Namorados, a minha interpretação

Ao que parece foi pedido um texto de humor (acho eu, acabava em mor, isso é certo...) pelos companheiros d’A Tasca. Pois bem, sintam-se à vontade para usar o meu! ;-)

Ass: PM


--e agora, segue-se o texto---
Estava o grupo na esplanada, em volta das cadeiras velhas, meias pintadas de verde barato e de ferrugem e verdete. Dispostos em meio círculo, porque se poucos eram para um círculo não davam, a menos que fosse um círculo de amigos, que era o que eles eram. O empregado logo veio, penteado, aprontado, cabelo alisado, bigode brilhando, o pequeno bloquinho segurando. Que desejam perguntou a um. Nada, disse, o seu colega já nos atendeu. E o outro foi-se, perante o olhar desiludido dos que quase começavam a ditar os seus pedidos. Mas, porém, estavam a ali para falar e, por isso, toca de continuar.
Um falava algo, o outro algo mais. Um acenou que sim e num gesto tão seu agarrou o copo de cerveja, contudo, não havia copo e ele apenas a desilusão agarrou.
Então, e essas cervejas, perguntou o Tó batendo nervoso as palmas das grossas mãos nas grossas pernas. Não vêem, era um engodo para o empregado, respondeu-lhe alguém fazendo uma careta de anormal. Continuaram a conversa.
Eu acho o sexo oral humilhante, rematou a Sara, a radical do grupo, figura corpulenta, longe de ser elegante, quase brutal, mas um pessoa fenomenal. Os outros acenaram, ou melhor, as outras. Nós os três ficámos ali meios quietos, meios calados. Eu acho o Zé Tolas feio, continuou ela. E nós rimos. Como se ainda não viste um, disse o Tó, meio embriagado por uma cerveja que nem bebera. Vi sim, respondeu secamente. E nós se tivéssemos copos, olharíamos para o seu fundo vazio ou trataríamos de o pôr à mostra. Há três anos na faculdade e a pesca era mais fraca que num deserto...
Mas, qual toque de cavalaria, lá surgiu a nossa salvação – ou seria a perdição? – o empregado regressava. Olhem, se querem ficar, vão ter que consumir algo, avisou. Pois bem, disse prontamente o mesmo que antes lhe falara, traga uma garrafa de água mineral. O empregado afastou-se deixando-o só com os olhares dos outros. Ele engoliu em seco, pois bem, é natural, se ainda não tinha água ao lado. Continuámos a macabra conversa. O empregado voltou. E como voz da consciência, da sacra decência, divina providência avisou-nos e a mim, autor. Então, este texto não era sobre o amor? É sim, disse um. E o empregado arqueou a sobrancelha, mas, pois bem, estava pago e lá foi atender os outros. O sexo oral é amor, atirou um para o ar. É mesmo, rosnou a Sara. É sim, rematou o Tó, perante o meu olhar reticente. Porquê, perguntei eu, quase que curioso. Afinal, disse-me ele o eterno brincalhão do grupo, no Reino Unido até dizem aos putos que é uma boa opção a fazer amor. Mas isso é para os putos, oh meu, disse-lhe. Eh pá, eles lá sabem, por alguma razão estão entre os primeiros... Sim, da gravidez na adolescência, rematei. Amor não é sexo e sexo não é amor. Mas pode ser os dois, continuei. Cala-te e bebe uma cerveja disse a Sara, iniciando as suas divagações acerca da vida partidária na sede do seu partido – aquele que começa por P e acaba em P, mas não é de direita -, iguais a tantas outras que nos repetia em longos serões entre duas cervejas, ou águas minerais...