AE's
Já que os meus outros companheiros de redacção decidiram dar a sua opinião sobre a problemática das propinas e, mais propriamente, sobre as formas, as motivações e os objectivos dos protestos eu sinto-me na “obrigação” de o fazer também. E, para muita pena minha, a impressão que tenho do movimento associativo estudantil não podia ser pior, do secundário ao universitário.
Começando pelo secundário a situação seria hilariante se não fosse tão grave a falta de um movimento estudantil sério. Na maioria, que só não digo extensa por respeito aos líderes sérios (que os há), as AE’s dos liceus portugueses são organizações sem um mínimo de respeito ou influência. Na maior parte das vezes dedicam-se a fazer uma mera gestão corrente da vida na escola: organizar duas festas e uma viagem de finalistas, afixar um cartaz sobre um tema qualquer, pôr um par de colunas na sala de convívio e três cadeiras novas no bar, está feito o programa eleitoral. Aliás aqueles que já assistiram à campanha que precede umas eleições para a AE sabem o quão desolador é o cenário. Nas últimas que vivi não consegui fixar um único propósito político ou ideológico digno desse nome e terminei a campanha (e agora o mandato) sem ter a certeza de quem eram os líderes das listas. A partir do momento em que um dos argumento utilizados foi o de terem conseguido a proeza de colocar um placard de cortiça na sala de convívio, é esclarecedor o nível do debate. Se é um facto que as listas candidatas parecem esconder ao máximo qualquer proposta política sobre educação, a verdade é que eu não as censuro. Observando o nível e o teor das ideias das AE’s sobre educação, eu simplesmente agradeço pelo facto de as mesmas AE’s não terem o mínimo de credibilidade junto de quem decide. Sinceramente não percebo como é que os líderes estudantis esperam alcançar o respeito e a influência que se queixam de não ter quando as ideias que avançam são pouco menos que patéticas. Nos últimos manifestos ou panfletos de apelo à greve que recebi protestava-se contra os exames nacionais e contra a nota mínima positiva de acesso à faculdade para além de se classificar as políticas educativas como elitistas, xenófobas (!) e guiadas por interesses de lobbys capitalistas (!!!). Vamos analisar as propostas uma a uma. Os exames nacionais são simplesmente o único instrumento que nos separa da bandalheira total. Toda agente sabe que há escolas (e não são só algumas privadas) onde a avaliação é, digamos, mais atenciosa e para muitos alunos (como eu) os exames nacionais são a única garantia de uma avaliação minimamente justa e equalitária. Quanto a exigir nota positiva no acesso à universidade, realmente não passa pela cabeça de ninguém obrigar a que se tenha positiva a Matemática para entrar em Matemática ou positiva a Português para entrar em Letras. Qualquer dia até os obrigam a estudar! Protestar por motivos como estes é que torna as manifestações estudantis as anedotas que são hoje.
Enquanto o nível das intervenções das AE’s permanecer no estado desolador em que se encontra agora, a mim, não me apanham de certeza numa qualquer greve ou manifestação.
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