Ah....claro, claro...
Entrevista de José Saramago à Visão de 25 de Março.
“ Vivemos num esquema de representação partidária, político-ideológico, muito definido – direita, centro, esquerda – pensando que não se pode sair daí. Ora, eu creio que pode, há a intervenção não partidária e o voto branco” (…)
(Seria interessante para ti que o “Ensaio Sobre A Lucidez” aumentasse o número de votos em branco?)“
Não quero complicar demasiado a vida aos partidos e aos governos mas admito que sim. Gostaria de saber como é que se aguentaria o chamado sistema democrático se uma maioria de pessoas, onde quer que fosse, na Europa, decidisse votar maioritariamente em branco.”
“... os partidos não foram criados no paraíso, por Adão e Eva, têm só dois ou três séculos de vida, talvez não durem sempre, talvez não fosse má ideia começarmos a preparar-nos para isso, no plano cívico. É aí que me coloco. Claro que as ideologias não acabarão nunca. Só que não têm de estar dependentes da existência de partidos, como se não houvesse outra possibilidade de encarná-las, de organizar vontades e ideias novas, surgidas no interior da sociedade. Os partidos não são de ordem divina. Antigamente dizia-se que fora da Igreja não havia salvação; agora parece que politicamente, fora dos partidos também não há. E o facto é que esta democracia não funciona. A prova mais concludente é que se pode discutir tudo menos a própria democracia, sequestrada dentro de um sistema em que não passa de uma fachada mais ou menos brilhante e colorida! Com isto não quero dizer que todos ou a maioria dos políticos nos enganem de propósito, o sistema é que é enganoso!”
Depois de manifestar estas suas visões sobre política e o seu funcionamento, sobre os partidos e o seu papel na sociedade, sobre eleições e o sistema democrático actual, José Saramago tomou a única posição que podia. O único gesto verdadeiramente coerente com tanta rebeldia anti-sistema. Candidatou-se às eleições europeias nas listas do PCP.