O Diva de Portugal

Que há para dizer? Isto é um blog... Ah, sim! Se quiserem entreter (vulgo, contactar) alguns dos desocupados que fazem isto, usem os e-mails da Beatriz, da Inês, ou do Joao.

sábado, janeiro 24, 2004

No comments

Tomei conhecimento, mas prefiro nem acreditar. Depois de ouvir uma deputada britânica, representante do seu povo, afirmar que, se fosse palestiniana, suicidar-se-ia num atentado bombista, só me ocorre uma reacção:
So why don’t you?!!

Pena de Morte

Quis incluir a minha opinião sobre a pena de morte nos comentários à Beatriz, mas acabou por tornar-se (sim, porque nisto de blogs, muitas vezes os posts têm vontade própria) um post meu sobre pena de morte. Antes de mais, e porque a minha amada stôra de português diz que tenho introduções pouco explícitas, a minha opinião resume-se em 2 palavras: NÃO. NUNCA.
Senão vejamos. As punições judiciais têm 3 objectivos principais: dissuadir os restantes de praticarem um crime semelhante, proteger a sociedade da ameaça que o criminoso representa e permitir a reabilitação do criminoso. Ora, a defesa da pena de morte baseia-se, quase unicamente, numa interpretação das decisões da justiça como uma forma de vingança. E a justiça não é, não deve ser, uma questão de vingança. O desejo de vingança é uma reacção natural e compreensível, mas não é certamente a mais elevada das características humanas. A justiça responde a uma necessidade básica das sociedades que é a procura de segurança. Não é uma forma de vingar os ofendidos. Porque se o fosse, nem sequer era necessária. Instaurávamos a anarquia absoluta, e cada um que se sentisse atingido, era encorajado a procurar satisfações da forma que entendesse. Se as punições dos tribunais fossem uma forma de vingança, então não era preciso código penal. Era claro como a água: os assassinos matavam-se, os violadores eram também eles violados, explodíamos com os bombistas, queimávamos a casa aos incendiários, roubávamos os carteiristas e espancávamos alegremente os acusados de violência doméstica.
Explicitado que está o meu primeiro argumento, voltemos aos objectivos da justiça. Argumentam algumas pessoas, que a pena de morte é a única forma de dissuasão suficientemente poderosa. Pessoalmente, não sou assim TÃO descrente na raça humana. E nenhum dado estatístico permite confirmar tal argumento. Não há nenhuma relação directa entre a aplicação, ou não, da pena de morte, e uma diminuição na taxa de homicídios. O segundo objectivo da justiça é o de proteger a sociedade de indivíduos considerados potenciais ameaças. Uma forma simples de o fazer era matá-los, é certo. Mas não creio que seja a mais acertada, tendo em conta que se pode alcançar os mesmos resultados simplesmente mantendo esses homens presos e afastados da sociedade. O último objectivo é aquele que é mais difícil de entender e de executar, mas é, na minha opinião, o mais nobre e elevado de todos. Considero a convicção de uma sociedade, de que é possível reabilitar um criminoso e torná-lo um homem honrado, uma das mais fantásticas demonstrações de confiança na raça humana. A forma de proceder a essa reabilitação é que é muito complicada. Não é claro que a prisão alcance esse propósito. Não é absolutamente perceptível como é que colocar um criminoso X anos dentro de 4 paredes, a coleccionar recortes pornográficos e a olhar para o tecto, vai torná-lo uma pessoa melhor. Pode não ser o melhor sistema, mas é certamente MUITO melhor do que simplesmente matá-lo.
Estes são os meus argumentos (mais ou menos) “racionais”. Mas, para mim, resta um argumento mais poderoso que todos os outros. A convicção absoluta - metade educação católica, metade ser humano agradecido pela sua vida – de que é ignóbil matar alguém. Mais importante do que a vida, só a dignidade de vivê-la. Matar um ser humano, só em defesa: de si próprio ou de algo mais elevado. Não me parece que matar um criminoso por puro ódio e despeito se encaixe em qualquer das categorias.

sexta-feira, janeiro 23, 2004

2001: A Odisseia No Espaço

Pois é, às vezes entram pelo meu consultório casos destes, casos extremos de gente que já não tem qualquer ligação com a realidade, nem qualquer razão dentro delas, enfim, vivem naquele seu mundo de ilusão. Pois bem, entrou-me um no consultório esta tarde - mais um, são vinte e sete ao todo - e obviamente que o tive que atender. O paciente, cujo nome naturalmente não vou dizer (mas que se sem o revelar, posso dizer que mistura António no início e Ramalho no fim e que é de Leiria e tem número de contribuinte: 009876-09876-045657), não pareceu dizer coisa com coisa, mas achei por bem relatar à equipa de peritos o facto, não vá alguém encontrar a resposta para o seu problema. Eu por mim, apliquei-lhe um tratamento totalmente eficiente (para a minha conta na Suíça), quatro consultas por semana a 200 euros cada, esperando que ele não fale mais do que o necessário para prosseguir com o esquema por mais uns 10-15 anos. E como dizia, já lá vão 27 (27x4 por semana durante 10-15 anos...).
Mas falando do seu delírio...
O sujeito, cujo nome não disse ainda (estou-me a conter! como devem ter reparado, de resto), disse que descobriu algo que põe a sua vida em jogo. Sim, ele descobriu o segredo que levará os EUA e Bush a Marte. Na verdade, a soma de dinheiro é proibitiva, especialmente quando se quer derrubar mais uns regimes com armas nucleares (o que é totalmente compreensível disse-me, pois os EUA não têm armas nucleares e há 50 anos que não destacam forças para o exterior preferindo usar os exércitos em tarefas de utilidade pública como jardinagem, danças foclóricas e arrumadores de carros). E eis que o meu paciente descobriu a solução. Mandar um robô para Marte para tirar umas fotos sai muito caro, disse-me, assim, os EUA irão enviar um homem. Isso eu sei, disse-lhe. O que eu não sabia é que não só mandariam um homem, como o equipariam com uma máquina fotográfica descartável ou na melhor das hipóteses um telemóvel de 3ª geração, contenções orçamentais disse-me. Pois bem, prossiga, incentivei. E lá continuou e não parou de revelar factos chocantes. É que tendo em conta a fraca habilidade para fotografia do robô (que entretanto, tem tentado uns artísticos registos a preto e branco), eles levarão até Marte o maior perito em fotografia do mundo: o típico turista japonês. Mas isso sai muito caro, disse-lhe, já viu o ordenado médio do Japão, fora o tempo da viagem, os seguros, a alimentação esquisita com peixe cru e isso. Ele riu-se, chamou-me ignorante. Enfim, pelos vistos era mesmo, mas já não sou! É que é aí que reside o segredo, revelou-me, na verdade, não será um japonês a viajar para Marte mas sim um chinês. Como são todos parecidos, ninguém notará... tem razão! O maluco tem razão! E é óbvio, isto é tudo um acordo secreto entre os EUA e a China. Tem lógica... afinal, ele nem é maluco... mas deixem estar, que estes 200 euros por consulta estão a ajudar a pagar as prestações das minhas férias nas Caraíbas.

Ass: PM

Agradecimentos, são devidos, pois claro!

Foi uma semana produtiva - não em posts, claro. O Divã de Portugal, este pequeno grande blog, começa a ser um fenómeno de massas atraindo quase tantos como os funcionários públicos que fizeram greve na empresa de calçado Costa & Costa esta sexta. Pois bem, desdobro este post em vários - mas todos, sinceros - agradecimentos aos que, ao longo desta semana nos referiram, comentaram, ouso dizer preferiram: directamente do brilhante blog A Sombra (que tem uma excelente secção de cinema, aqui ao lado listada) tivemos um comentário ao polémico post da Beatriz; n'A Tasca - do nosso mais compulsivo comentador e leitor, jamiroo, naturalmente um fã (como eu) de grande grupo, Jamiroquai - fomos listados, comentados e até preferidos (na forma do nosso mais recente blog); por fim, no blog cinéfilo Pipoca Rasca fomos referidos e, até mesmo, indicados como uma das jovens promessas da blogosfera nacional no tocante ao cinema. Que mais dizer? Que mais desejar?
Os nossos agradecimentos! Sim, não dizemos obrigados, dizemos agradecimentos pois é o que verdadeiramente sentimos com tanta amável e boa referência! Bem haja!

Ass: PM

PS- O Divã Do Cinéfilo foi actualizado, com mais um comentário a um filme, desta um filme português e antigo, mas que me pareceu digno de nota nesse atípico blog dedicado à 7ª arte. E, entretanto, parecem resolvidos os problemas técnicos com o visual do blog. A ver se o próximo post não muda o visual, novamente. Já seria a terceira vez...

segunda-feira, janeiro 19, 2004

Liberdade de Opinião 2

Em reacção às interrogações que levantei no post Liberdade de Opinião, o jamiroo tentou, n’A Tasca, transmitir a sua perspectiva sobre o assunto. Em poucas palavras, e caindo no exercício retórico, sempre duvidoso, de tentar compreender as intenções de terceiros, o que o jamiroo afirmou era que o despedimento do apresentador inglês e outros na mesma situação eram, no mínimo, compreensíveis. Compreensíveis porque, se bem que concorda em teoria com o conceito da liberdade de opinião universal, quando se trata de figuras públicas a questão era mais delicada. Visto que tais figuras públicas são passíveis de influenciar a população, elas teriam uma responsabilidade acrescida sobre os ombros. Responsabilidade tal, que a BBC não podia tolerar que uma pessoa que para todos os efeitos era uma das caras da estação, permanecesse nos quadros. Posto isto e, mais uma vez, correndo o risco de não ter transmitido integralmente o sentido do post, devo afirmar que não concordo. Não posso concordar.
Vamos por partes. É certo que, como modelos para muitas pessoas, algumas personalidades que por causa da sua ocupação estão mais expostas ao olhar do público deviam ter mais cuidado comas afirmações. Simplesmente, do deviam a serem punidas por isso vai um longo passo. Eu posso discordar e achar totalmente irresponsável uma qualquer declaração, mas não posso aceitar que a pessoa perca o emprego por isso. Pior ainda se considerarmos que a BBC é uma empresa pública, paga por todos os cidadãos. Numa empresa privada, não devo, mas posso recusar-me a aceitar uma pessoa pela razão mais estúpida possível. Numa empresa pública já não é assim. Não é aceitável que alguém seja despedido por não pensar de acordo com aquilo que é politicamente correcto. Uma situação destas leva-nos de novo para o antigo regime em que era obrigatório assinar uma declaração em que se declarava anti-comunista, para ser possível integrar a função pública. O princípio é o mesmo. Só muda a ideologia. Antes era impensável que algum “vermelho” estivesse, por exemplo, na RTP. Se há alguma vantagem inegável num sistema democrático é a imposição de não se impor uma ideologia única e infalível. E é precisamente essa capacidade que torna a democracia, numa perspectiva churchiliana, o pior dos regimes à excepção de todos os outros. Ser tolerante e aceitar os que pensam como nós é fácil e não tem grande valor. Em qualquer ditadura se faz isso. É na aceitação, e inclusive na protecção, do direito do outro a pensar distintamente que reside a autoridade moral das democracias. E este direito é, a meu ver, necessariamente universal, trate-se de figuras públicas ou não. Posso não concordar com as declarações em causa, um misto de meias-verdades e generalizações insultuosas, e estou no meu direito de julgar a pessoa em causa por causa daquilo que pensa. Mas não posso, ou melhor, não devo, puni-lo por isso. Dizes no post que a BBC era de alguma forma representada pelo seu apresentador e como tal ele era um prolongamento da empresa mesmo fora do programa. É óbvio que enquanto está, no cumprimento do seu trabalho, a apresentar o seu programa, ele está em representação da empresa e tem uma série de responsabilidades como tal. Mas a entrevista foi dada a nível pessoal, enquanto cidadão livre e não enquanto porta-voz da BBC. Ao contrário do que escreves no post não creio que “O apresentador é como um prolongamento da empresa”. Um contrato de trabalho não passa disso mesmo, do trabalho. Ao iniciar um emprego numa empresa não é aceitável que me exijam, para além do trabalho, uma anulação das capacidade de raciocínio individual ou a demissão daquilo que são as minhas convicções. Não seria ético nem da parte do empregador nem da parte do empregado. Um contrato de trabalho não é a venda da alma ao diabo.
Olhando para trás reparo que o post ficou um pouco mais extenso do que desejava. Mas espero que tenha servido para esclarecer o porquê da minha posição.