O Diva de Portugal

Que há para dizer? Isto é um blog... Ah, sim! Se quiserem entreter (vulgo, contactar) alguns dos desocupados que fazem isto, usem os e-mails da Beatriz, da Inês, ou do Joao.

sábado, novembro 01, 2003

E falando de Tintim e a Arte-Alfa...

Gosto de pensar que para os poucos que nos visitam o Divã não só é um local onde se reflecte e se convida a reflectir, mas também um local onde se conhece o deconhecido. Por isso, periodicamente, gosto de publicar estes meus textos falando de coisas que muitos esquecem e por vezes tentando relembrar e não conseguem. Espero que este texto do Tintim cumpra, nesse e noutros aspectos, a sua função.
E para o Vitor, eis a prova que num livro podes encontrar bons motivos para apreciar o Tintim. Mais que gostar ou ler, Tintim mostra-se um livro com algo mais que uma história e ilustrações, há um porquê para tudo, há também uma mensagem que se passa e a crítica a uma certa realidade. Reflectir Tintim, é reflectir sobre o seu tempo...

E eis que publico aqui mais algumas imagens, cumprindo os desejosos e conselhos de quem tem feito notar que este blog peca por excesso de texto e falta de imagens. Estas são sobre o tema do meu post anterior. A título de curiosidade, seguem então...

A versão inacabada de Hergé (uma fantástica mostra do processo de criação):

E a acabada por um colaborador,mantida a preto e branco, excepto a capa. Nesse ponto, concordo, foi uma boa opção:


Ass: PM

Tintim, um herói de sempre

Escrevo algumas linhas, para falar de Tintim. Este é, a meu ver, um dos heróis mais interessantes do mundo da BD clássica. Consegue manter-se actual e fascinar os pais, os filhos, gerações após gerações. Não é lugar comum e prova disso é a aposta do Público em publicar a colecção, isto após O Independente ter publicado 8 álbuns das aventuras do personagem em várias partes. Pena a impressão e acabamento não honrarem o personagem, se seguissem o exemplo dos DVDs não haveria queixa a apresentar (o último Total Recall pareceu-me valer o dinheiro e a edição tem uma qualidade que nada deve a uma edição comprada).
Olho para a minha estante, nas prateleiras encontro o fiel Tintim, entre clássicos da literatura, revistas de cinemas, bandas-desenhadas e mais uma data de géneros literários e tipos de capas diferentes e panóplias de cores e tons, formatos e disposições. É um companheiro de infância que não ousei mandar embora. Até porque redescobrindo Tintim, enquanto folheava uma das suas aventuras, me apercebi que este poderia também ser, muito bem, um companheiro para a vida. É o tipo de livro que não me importarei de ler aos meus filhos, como gostaria de lhes mostrar as fantásticas histórias da Rua Sésamo ou as maravilhosas séries de animação (das quais, para mim, o Bocas/Ox Thales é uma referência incontornável).
Hergé mostra-nos o quão criativo foi e o quão inovador ainda mostra ser. Na década de 80, Tintim ganha a sua derradeira obra. O tempo, tal qual vil traidor, rouba-lha. Mesmo incompleta, Tintim e A Arte-Alfa, é a derradeira obra de Hergé e uma das cinco melhores, numa colecção composta por mais de uma vintena de títulos e mais de cinco centenas de personagens (segundo consta). Mesmo assim, estando inacabada, é uma aventura única, complexa na história, inventiva, dinâmica, actual e que somente não viu tais qualidades amplamente reconhecidos por poucos a conhecerem. Foi acabada por um colaborador. Sou sincero no que, de seguida, digo: não gostei, achei que Hergé merecia melhor, merecia ser deixado como está, que a edição feita pela sua esposa devia ser única por ser a derradeira, a única que foi de facto feita por ele, a única que nos mostrava o verdadeiro Tintim, o velho companheiro, o velho espírito da série e o enredo que todos esperávamos de um grande criador. Disse e bem numa certa entrevista que ele, Hergé, era Tintim e que Tintim e os seus eram seus filhos, poderiam ser continuados por outros, mas jamais seriam Tintim e os seus. A essência se perdeu, sem dúvida, com o autor. Existem, é verdade, excepções. A última aventura de Blake e Mortimer chega a ser superior a algumas das aventuras feitas pelo próprio Jacobs! Mas Tintim não foi o caso. A edição de longe mostra-se estranha ao leitor ambientado com as aventuras do jornalista, soa-lhe falsa e artificial, imposta. Falta-lhe a dinâmica de Hergé, o subtil detalhe e a atenção dada ao pormenor e ao enredo, com Hergé não havia lugar para clichés, apenas para o puro génio criativo. Falta-lhe o humor do autor belga. De resto, quanto ao humor, a tira mais bem concebida é nada mais nada menos que uma das produzidas pelo próprio Hergé! Nesta história tudo parecia contribuir para um grande sucesso, a arte-alfa criada pelo autor e que se baseava nos movimentos artísticos da década de 70, as seitas religiosas, o contra-bando de arte, etc tudo temas inexplorados e apesar de tudo actuais. Saber que tal obra foi deixada inacabada foi facto penoso, senti pena pela perda de Hergé e de Tintim. Tintim morreu da pior maneira possível, inacabado. Preso entre a morte e a vida na própria aventura, no momento crucial. Hergé deixa o mundo e o seu amado filho, adormece no eterno sono e deixa inacabado um verdadeiro sonho. E entre nós, leitores e entusiastas, grande pena, grande saudade, chora-se a perda de dois, não apenas de um. Resta lembrar aquela que é e será uma das mais marcantes personagens da BD, Tintim. A qualidade das suas aventuras fazem dele uma leitura intemporal, um clássico actual, não uma obrigação, mas um prazer no reencontro com o passado estranhamente feito presente no curto encontro. Tintim é herói sem tempo, sem pátria (quantas vezes lhe reconhecemos a identidade belga?), é um herói de todos, por todos e para todos. É um professor sábio nos valores, inteligente nas opiniões, humano nas acções. E com ele Milu e Haddock, mais que amigos, a extensão de Tintim. Haddock, capitão, de primeiro nome Archibald. Gosto imenso do personagem. É companheiro, amigo, humano nas qualidades e defeitos, quase que real, um anti-herói e uma pessoa que negando as suas fraquezas não as consegue ocultar. É de todos o mais adorável, o que mais riso genuíno capta e se fiel mostra, lealdade que prova ao acompanhar Tintim ao Tibete, numa aventura mágica, qual alegoria sobre a amizade. É leal ao salvar Tintim no País do Ouro Negro, ou quando partilha os raros momentos de descanso e lazer.
Reconhecemo-nos em Hergé e no seu mundo, que nos apresenta como sábio e experiente cicerone. Em Spontz podemos reconhecer o estereotipo do vilão nazi das tiras de BD das décadas de 40 e 50, ou um vilão caricato de Major Alvega/Ace London, Coronel Von Block interpretado por António Cordeiro, se não me falha a memória. Em Girassol o professor e inventor que imaginamos ser na tenra infância. Em Dupont e Dupond o lado ingénuo de cada um. Em Oliveira, o emigrante português, o compatriota que outros parecem esquecer menos e amar mais que nós. Em Haddock, o amigo caricato mas sempre disponível. Em Serafim, o chato vendedor e amigo do inconveniente. Em Nestor o fiel mordomo, tal qual um outro, Alfred de Batman. Em Tintim Rumo à Lua, o sonho de muitos. Em Tintim no Tibete, o valor máximo para muitos mais.
Encontrei na internet a versão acabada da última aevntura, vão quase 3 meses. Antes, havia encontrado na mágica estante de uma célebre livraria um tesouro que desconhecia. Falo do brilhante livro e completíssimo documento que é a obra de Michael Farr (um entendido em Tintim e um dos mais conhecidos especialistas nas suas aventuras), “Tintim, el sueño y la realidad”. Tristemente apenas em espanhol e em Espanha, pois por cá ainda não ousaram traduzir uma obra tão rica e oportuna. Mais que uma análise é uma fantástica síntese de documentos, opiniões e esboços do próprio Hergé do mundo de Tintim. Vale a pena ver...
Espero que alguém reconheça nestas linhas a sua opinião sobre Tintim, a sua paixão por uma eterna personagem, uma marca num mundo tão mágico como a BD.

Ass: PM

quinta-feira, outubro 30, 2003

Surpresa pela manhã

Recebi logo pela manhã, no meu mail, o novo poster do Spider Man 2, cortesia da mailling list do filme. Uma maravilha! Gostei do estilo, similar aos anteriores. Ainda que tenha ficado aquém do resultado do do vilão, Dr. Octopus.
Mas há uma surpresa nele, a segunda imagem do vilão surge na viseira do Homem-Aranha. Ora vejam, cortesia do vosso Divã. Não é grande coisa, mas dá para termos uma ideia... parece que Raimi optou mesmo pelo agressivo e misterioso look do primeiro poster.
E outras novidades referem-se à data para a divulgação 8em exclusivo na internet) do primeiro trailler do filme. Será a 15 de Dezembro. Esperemos, então! ;-)

Ass: PM




quarta-feira, outubro 29, 2003

As Cruzadas

Encontrei no meu computador, entre os ficheiros dos meus arquivos, esta interessante imagem. Mostra num registo de tons bastante subtis, um cavaleiro da Ordem dos Templários (entre nós conhecidos pelo magnífico Convento de Cristo em Tomar) combatendo nas cruzadas. Permite ao visitante ter uma ideia do que fala o projecto de Ridley Scott...

Ass: PM


Um novo projecto de Mr. Ridley Scott

Ridley Scott, gosto de alguns dos seus filmes. Gosto do seu Alien, tenho pena que parte das cenas previstas não tenham passado do papel. A trilogia teria ganho com elas (a explicação sobre a origem dos Aliens dada numa estranha pirâmide clarificaria se os Aliens foram ou não uma macabra arma biológica de uma espécie extraterrestre).
Ridley Scott, gostei do desafio na adaptação de Hannibal, gostei do modo como ultrapassou o complexo livro-filme e como superou a ausência de personagens cruciais para a compreensão do mal (e neste ponto, particularmente do encarnado por Mason Verger).
E Mr. Ridley Scott aceita um novo projecto, de seu nome Kingdom of Heaven. É uma história maravilhosa, que vem dar esperanças para um entusiasta do que é medieval e das cruzadas cristãs. Tudo começa quando um jovem ferreiro se torna um cavaleiro e decide ajudar na defesa da cidade de Jerusalém contra os expedicionários que lideram as Cruzadas. Uma outra prespectiva, portanto. De referir que, este estabelece uma relação de amizade com o rei Baldwin, um cristão que acreditava que todas as religiões eram bem-vindas para rezar na cidade. O realizador avisou que será um filme de reflexão, sobre a religião, dos tempos conturbados, da visão do outro lado das Cruzadas.
As opções iniciais pareceram-me mais que acertadas. Para mim, seria uma delícia ver o maravilhoso e camaleónico Daniel Day-Lewis neste papel, apesar da sua idade. Seria uma rara oportunidade de ver este talentoso actor, cujo último trabalho escapou a um merecido reconhecimento na noite dos Óscares. Uma outra opção também me agradou, Paul Bettany. Falei um pouco dele na minha leve análise de Dogville. Acho que é um actor menos emotivo, mas sensível na construção da personagem (não que a abordagem de Day-Lewis seja, de algum modo, inferior). Eram em ambos os casos boas opções.
Mas, a decisão final foi tomada. Em vez de actores famosos e de talento reconhecido, Mr. Ridley Scott apostará no novo, mas mediático, Orlando Bloom. Sinceramente, não arrisco comentar. A sua prestação no LOTR não é de todo soberba, mas também não sai muito da minha concepção de Legolas (mas também, há que referir que o Gimli de John Rhys-Davies rouba qualquer cena em que entre). Apenas devo referir o arriscado que é para o actor abusar do papel de ferreiro, lembro que Piratas de Caribe terá uma sequela (só por rever Jack Sparrow vale bem o bilhete) ou mesmo duas e nesse filme o personagem do actor era... um ferreiro. Um actor não se deve fixar muito a uma personagem sob o risco de ficar com uma imagem demasiado associada a ela. Claro, há casos em que mesmo uma considerável exploração de um papel-tipo não desvaloriza o actor ou compromete e a sua carreira. Espero que com Bloom tal não suceda, de modo a que o possamos ver em papéis como o que nos oferecerá Kingdom of Heaven.
Resta desejar ao realizador e à equipa boa sorte para a empresa!

Ass: PM

Casca Mole, o ser que nem o medieval bestiário ousou referir

É gente incerta, que nem os bestiários da Idade Média ousaram descrever pois temiam que a incerta figura tivesse também incerta existência e fosse mero produto da medieval imaginação. É gente que adora o púlpito pela forma do discurso e elogia sua mensagem quando esta se mostra vazia de tudo, menos de ar que se sopra em voz possante. É a essência que desdenha, é a aparência que toma por primeira em tudo. Rege por ela sua macabra vivência. É ser sem sapiente discurso, sem humano pensamento, desprovido de conhecimento, critica e desdenha o útil, abençoa e enaltece o despropositado. Ama a forma, desvaloriza o conteúdo. É casca mole, couraça do engano para estranhas entranhas. Fala com voz de engano e mais não diz que palavras perdidas que em ciclo incompleto se reencontram, abraçam, alegram, elogiam e repetem, sem mais dizer do que o que já se sabia, sem mesmo nada acrescentar ou confirmar. Palavras vazias. Constatam o óbvio, não clarificam o aparente, são ilusão irreal no meio do real, são incerteza na certeza, questão na própria resposta, deslocadas no local de outras.
Eu me cruzei com certo ser em dia de mito enganado, de verdade tomada por certa quando o real foi avistado. E quantos mais não conheceram o mítico ser? Que por nome dá de Casca Mole, nome inglório, e que traja humana figura de falsas vestes criada

Ass: PM

O Julgamento

"O elevado juíz olhou para o homem ajoelhado, ele não se moveu, manteve-se no seu estado paralisado, diziam."

Seria esta a versão dramática de um certo julgamento, num certo país, com um certo Bibi que ainda não é certo se é julgado ou não ou se é mesmo gente certa ou não. Contudo, alguém se lembrou - e passo a citar - de dizer que Bibi se encontrava em "estado vegetariano" e com esta linda justificação se adiou o julgamento. Não creio que o estado vegetativo seja argumento suficiente, se não está mentalmente apto que se interna o dito senhor num local apropriado para o resto da vida, a menos que esteja a mentir e aí há que o "internar" noutro local, mais apropriado. A Justiça está cheia de falhas e limitações, um bom advogado explora-as e faz uso da própria Justiça para desarmá-la com argumentos que, pelas suas falhas e limitações, não pode vencer. O show-man, advogado do dito senhor, conseguiu. Resta saber se a Justiça aceita tão facilmente tal interrupção no julgamento. Após um ano na prisão é no chocante que só agora se inicie um julgamento para o qual existem provas há anos e que o adiamento parece (do ponto de vista legal) ter incapacitado o culpado.
Que fazer? Mudar o país ou mudar de país?

Ass: PM

terça-feira, outubro 28, 2003

Poema de Outono Incerto

É Outono incerto este que se me mostra e por isso incerto é o poema e suas palavras, para certo o sentimento que aborda. É Outono Incerto o que mostra a cada dia, à pessoa que só caminha. É Outono Incerto como o amor incerto que se adia. A confissão que se cala, a paixão que se tenta esquecer. São palavras que o vento sopra no ouvido frio, no coração sem chama, sem pavio. É texto sem rima, que tenta encontrar, com custo, a sua mensagem. Sabe a quem se dirige, mas toma-a por distante. Mais que tomar, constata penosa verdade. Pois se o poema torna próxima e certa a paixão, revela o quanto a sua ignorância pelo outro a torna distante e igualmente incerta. E a narração contínua, como a tentação de impressionar, do eu superar. Do amor cativar pela palavra certa que imita o perfeito amor.
O Outono não é época feliz e o amor é chama que não arde, não aquece. Torna incerto o pensamento para quem o toma por incerto? E incerto pois se duvida dele, não por não o saber, mas por saber que outro não o sabe. Que a outro se falta com a confissão, que a outro não se admite a paixão. E falo outro, pois não apenas o homem o sente, também a mulher... e o Outono não se mostra apenas frio e Incerto para mim, estou tristemente certo.
Oh, Outono Incerto, dá-me engenho para escrever melhor o que o coração não pode sentir com mais paixão!


Ass: PM

Para quem sorri aquele incerto sorriso?
Para quem olha aquele castanho olhar?
Quem beijam aqueles tenros lábios?
Quem tocam aquelas delicadas mãos?

Por que nome torce aquele coração?
Que nome é alvo de devota paixão?

O meu eu conheço e não esqueço,
Pois o dia mo relembra,
Quando a noite e o sereno sono o levam

E em seguida...

Os desonrados da forte fortificação

Imenso Panteão, forte construção, alta fortificação! Nele encerra nomes gloriosos, nele conserva seus vestígios. E eis alguns dos que a uma apresentação engenhosa (mas inadmissível num local com tal simbolismo) desonrou: Sidónio Pais, Teófilo Braga, Carmona, Humberto Delgado, Almeida Garrett, João de Deus, Guerra Junqueiro e Amália Rodrigues. Referiro também os que não estando lá não foram esquecidos: Luís de Camões, Nuno Álvares Pereira, Afonso de Albuquerque, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral e Infante D. Henrique.
Que isto seja a primeira e última excepção do que me pareceu um triste aproveitamento comercial de que o Panteão pouco lucrou quanto à sua imagem perante o público. Quem ganhou foi o livro que nele foi apresentado, que beneficiou de um ainda maior destaque. Ficam os parabéns (ironicamente, merecidos) ao autor da ideia! Quem arrisca, não pertisca, não é assim?

Ass: PM

Harry Potter ou a traição à Literatura

O Panteão Nacional. Alguém conhece? Pois bem, é onde estão as figuras (ditas) ilustres da nação.
Alguém teve a bela ideia de fazer lá uma recriação de um capítulo do pseudo-romance Harry Potter e o pior não é alguém ter tido essa ideia (a esse só se deve lata soberba), mas alguém a ter aceite e disponibilizado o referido espaço (entretanto ligeiramente modificado com adereços de bruxaria e carteiras escolares). Curvo-me perante a pertinência do comentário do deputado José Lello. Afinal, que raio de ideia é usar um monumento tão importante e com tais características para publicitar uma pseudo-peça de teatro sobre um livro que revela ser uma obra, por vezes, demasiado superficial. Pela criatividade merece mérito, mas pela forma não. Um livro não é só essência é verdade, mas ao Harry Potter falta forma e verdadeira essência, tem um bom argumento, mas nada que o sustente. Combate ao mal e crise da adolescência? Se um é um grande cliché, já o segundo foi bem tratado (e digo bem, em todos os sentidos) em Adrian Mole. Para quê chover no molhado? Ainda para mais quando a chuva não é agradável e apenas faz lama que salpica a imagem de um monumento tão respeitável.
Harry Potter seria um excelente argumento de um livro infantil, mas quando se tenta vender como mais que isso é mau. Harry Potter ultrapassou o mérito como obra e a qualidade literária que nele residia (há nele provas de genuína imaginação, reconheço) e passou a mero produto comercial de falso status. Ter a mochila do HP não é um mero gosto, mas uma imposição de uma criança de 5 anos aos pais se quer ser aceite na escola. Ler o HP aos 7 anos não é um gosto pela leitura, mas a necessidade se manter a par nas conversas sobre o adolescente de óculos. Entretanto, um livro que pela idade do heróis (e dos leitores que o iniciaram) devia ter uma temática mais adulta mantém-se nos clichés e na superficialidade do comercial. O facto de ter demorado 2 anos não é justificável... apenas aumentou a justificação, tanto que não serão poucos os casos de pessoas que comprarão a versão inglesa e a portuguesa. E tudo isto é pago com mais páginas. Mas resta saber se, na verdade, a obra tem mesmo a ganhar em ter mais páginas. Cenas óbvias e clichés como eu constatei na última edição nada dão de novo à obra, a não ser, claro, mais material para o cinema comercial norte-americano explorar numa futura adaptação. Esperemos que o próximo filme honre o potencial do terceiro livro (o único que me atraiu verdadeiramente).
Em relação ao Panteão. Resta saber, o que pensariam os ilustres escritores aí sepultados desta, verdadeira, afronta ao bom nome da Literatura?

Ass: PM

The empire strikes back

Sim, oiçam a marcha imperial enquanto ouvem as palavras ecoar...
Após uma quase ausência permanente, PM volta às lides do Divã mesmo a tempo de voltar a interromper o normal funcionamento do blog e intervir com os seus textos descabidos. Mas a pertinência e a continência não combinam, não é certo? A não ser que haja incoerência na personagem, mas isso é apenas em figuras que negam à sua essência como uma certa que apenas a forma acalenta. O recado está dado, o que o merece que leia e medite.
Mas enfim, PM volta para agrado e festejos do seu pequeno e inexistente clube de fãs! Aleluluia e como diria mui ilustre personagem "Eu quero ouvir um Ale-lui-a."
De resto, aproveito o post para reflectir sobre a questão do crescimento deste blog. São pelo menos 3 visitantes novos diariamente, o regresso de vários já nossos conhecidos e até agora 2 comentários de ilustres desconhecidos (ou talvez não... mas agradeço os que mandaram os restantes apesar de não serem ilustres desconhecidos, são pelo menos ilustres!).
O facto de não sermos mais desconhecidos ou alheios à ronda de blogs de alguns internautas é digno de reflexão. Talvez a ausência de público possa ser uma boa maneira de libertar a criatividade. Ou talvez não... nesse ponto o blog não tem problemas.
Que futuro nos espera?

Ass: PM

segunda-feira, outubro 27, 2003

Critica

Ainda bem que recebemos a primeira crítica. Alguém que leu os meus posts e os achou suficientemente provocantes para merecerem uma resposta, merece a minha absoluta simpatia. Mais a mais se me respondeu com coerência por aquilo em que acredita e (hélas!) com algum sentido de humor.
Como não sou pessoa para deixar alguém ficar mal, espero poder responder, sem necessariamente tentar convencer quem critica, a todas as críticas.

Quotas

No nosso, normalmente apático, cenário político houve há tempos um tema que despertou debate entre os diversos partidos e deu azo a meia dúzia de linhas escritas nos jornais. O assunto que despertou tal atenção foi a possibilidade de Portugal vir a adoptar, à imagem de outros países, um sistema de quotas mínimas de mulheres no Parlamento. Do meu modesto ponto de vista a hipótese é tão despropositada que o melhor mesmo, é organizar os vários argumentos contra numa lista.
- A constituição Portuguesa prevê que não pode haver qualquer tipo de discriminação, relativa ao sexo, no acesso a cargos públicos. Só com uma leitura MUITO liberal da constituição é que tal medida não seria considerada inconstitucional.
- Partindo do pressuposto que deve haver uma igualdade de oportunidades para ambos os sexos, a existência de lugares reservados exclusivamente para mulheres não pode deixar de constituir uma grave injustiça.
- Partindo igualmente do pressuposto que o valor individual e intelectual de uma pessoa não depende do seu sexo, não é compreensível qual a vantagem de ter mais mulheres só por ter mais mulheres. O facto de serem mulheres não implica que sejam mais qualificadas para deputadas do que qualquer homem.
- O argumento de que o ideal seria metade de deputadas para representar uma população com metade de mulheres, é ao mesmo tempo patético e insultuoso. O lugar de deputado é representativo, o deputado está ali a representar os seus eleitores não o seu sexo. A ideia de que uma mulher não pode ser representada por um homem e de que um homem não pode ser representada por uma mulher é algo insultuosa para a concepção moderna de Homem. Se só mulheres podem representar mulheres, por que não impormos quotas de carecas para representar os carecas, quotas de coxos para representar os coxos ou quotas de carteiros para representar os carteiros?
- A partir do momento em que os lugares no Parlamento estivessem sujeitos a quotas existiria sempre um estigma sobre o valor das deputadas eleitas. Apesar de ser certamente injusto para a maioria das deputadas, seria legítimo pensar se estariam no seu lugar por valor, ou somente para preencher as quotas obrigatórias.
- Tendo os partidos de incluir, obrigatoriamente, X% de mulheres, estaríamos a correr o risco de deixar de fora pessoas competentes só por serem homens. Olhando o panorama geral do nosso parlamento, esse é um risco que não nos podemos dar ao luxo de correr.

Como suponho que se depreende, não sou muito favorável ao projecto de quotas, e se algum dia um qualquer partido voltar a propor tal pérola do politicamente correcto espero que alguém se lembre deste post e proteste vigorosamente.

P.S.: Devido a mais um crash do meu computador, vi-me forçado a passar a escrever no portátil. Portátil esse que, por vezes, passa pouco tempo em casa, por isso se os posts rarearem durante um tempo espero que os 7 leitores deste blog me perdoem.

domingo, outubro 26, 2003

Blackadder

Já saiu em DVD a terceira e quarta séries, uma oportunidade de rever um clássico da Britcom e uma das séries em que Rowan Atkison participou antes de se tornar no mítico Mr. Bean.
A primeira e segunda séries também se encontra à venda, juntas ou em separado, com legendas em português. A embalagem tem boa apresentação e conta com uma descrição da série e da sua história dela. Peca apenas, esta edição, por não ter extras. Mas os episódios, por si só, valem a compra.
A baixo uma imagem com os actores da segunda série, reparar na barba de Rowan Atkison! Para mim esta é a melhor das quatro (a 5ª, sob a forma de um episódio especial produzido em 2000, ainda não a vi para minha grande pena) e o Emundo sarcástico mostra-se um dos melhores registos do actor, apesar da raridade deste tipo de actuações registo. E, apesar de tudo, esta nem é a série com mais humor fúsico por parte do actor!

Ass: PM


Gary Oldman

Gary Oldman. Ele será o prisioneiro de Azkaban no quarto Harry Potter que estreará em Julho de 2004, numa altura em que as bilheteiras dos EUA verão a estreia de grandes gigantes e de filmes há muito aguardados.
A mim parece-me razoável admitir a possibilidade de estarmos perante um actor multifacetado e dotado. O meu contacto com ele já advém de filmes antigos e gostei particularmente de saber que participaria (ainda que de um modo não-creditado nos cartazes) na sequela do Silêncio dos Inocentes. A personagem era Mason Verger, talvez a mais difícil do livro, era o inimigo de Hannibal, o único que se mostrava ainda pior que o psicopata. O filme não dá o privilégio de tempo para Mason Verger, o que é de resto natural. A sua face, ou a falta dela, é no mínimo perturbadora e é, pois, natural que não se abuse de uma presença chocante. O trabalho de maquilhagem é nesse ponto soberbo (protesto por essa questão não ter sido abordada o suficiente na reportagem do DVD). Ainda assim, o filme começa com a conversa entre a mórbida personagem e um antigo enfermeiro da ala de Lecter no hospital psiquiátrico, uma entrada em grande que põe literalmente cara-a-cara (ou talvez não tão literalmente) o público com o vilão.
O efeito sentimento inicial é um misto de horror, pena e choque, não se pode deixar de sentir pena da vítima de Lecter, que foi desfigurada após um encontro nada recomendável com o canibal. Contudo, no livro o escritor Thomas Harris mostra o quão terrível é Mason e como o que lhe sucedeu não foi mais que uma vingança, uma paga pelos seus crimes, um julgamento feito por Hannibal. Mason mostra-se, no livro, uma personagem igualável a Hannibal quanto à sua maldade e o escritor tira rendimento fazendo um jogo com os juízos, questionando o leitor e levando-o a reflectir sobre quem é o vilão, pois o que os separa é uma linha ténue. No filme, esta ideia podia-se perder.
Gary Oldman foi versátil o suficiente para transmitir a ideia de desconforto da sua personagem, da arrogância, da ambição pela vingança, mas também pela indiferença quanto aos crimes passados (Mason é um antigo pedófilo, filho de uma das mais importantes e ricas famílias americanas). A sua presença no filme não é extensa, como disse, e mostra-se (muito) diferente à do livro (personagens cortadas, morte diferente, diálogos soberbos perdidos), mas o resultado é que Gary Oldman sabe como trabalhar o guião ao ponto de inserir as características-chave da personagem de Thomas Harris nos poucos minutos em que aparece. Não é mesmo de estranhar o fim da personagem, em muito graças a um subtil toque nos primeiros minutos.
Claro, a sua condição de vilão, a maquilhagem que segundo muitos faz o trabalho todo e a face que se construiu com ela ditaram que não fosse uma personagem apta a concorrer com os restantes nomeados para o Óscar, não foi nomeada. Merecia uma nomeação ao Óscar para melhor actor secundário, a meu ver. Vencer, talvez não, nesse ano a concorrência era de facto demasiado boa para tal acontecer. Talvez merecesse tê-lo sido, vendo o livro encontro uma interpretação sólida e correcta, um bom trabalho como actor, em suma. Fica a pena do esquecimento quanto à soberba maquilhagem do personagem, que merecia o Óscar.

Ass: PM